Samba Acadêmico Brasil Edição 09 ANO I Dezembro 2016 | Page 29

Muitas foram as romarias que se deslocavam para a cidade, principalmente durante o mês de agosto. A Igreja Católica via com alegria a devoção dos romeiros, mas não via com os mesmos olhos o crescimento de populares que passaram a participar dos batuques promovidos por negros, e as comitivas de várias cidades do entorno de Pirapora que eram recebidas. Na ocasião, a Igreja, defende junto ao corpo político local que o batuque dos negros devia ficar apartado da festa promovida pela Igreja e que tinha cunho sagrado, e acaba conseguindo a construção de dois barracões para o alojamento dos negros e também para a elaboração dos seus festejos, mas fechados em quatro paredes. Eram 07 (dias) de Samba sem parar, conforme relato de D. Esther.

Esta atitude, promulgada pela Igreja e executada pela política local, deve ter despertado nos batuqueiros a sensação de conquista de um espaço para a sua manifestação cultural. E as rodas que já tinham experimentado alguma forma de organização e de contato entre as suas várias comunidades, crescem em popularidade e público. Muitos negros e simpatizantes já haviam se transferido para bairros periféricos da capital paulista, bairros destinados aos trabalhadores e menos favorecidos nas regiões dos alagadiços do Tietê, como Barra Funda, Largo da Banana, entre outros. E lá também já começavam a se organizar para realizar as suas rodas efervescentes, porem terminavam drasticamente com a chegada da polícia. Esses batuqueiros da capital também se organizavam para participar da festa do Samba de Pirapora.

A popularidade alcançada nos barracões irrita ainda mais o clérigo mandatário local, que intercede mais uma vez junto ao poder público local, agora pela desativação dos barracões acusados como antro das festividades profanas. De agora em diante não poderia haver mais os batuques nos galpões, e nem tampouco a céu aberto. Segundo relato de Dona Esther, rainha do Samba de Pirapora, os sambistas eram parados já na estrada e proibidos de entrar na cidade.

O samba “O Batuque de Pirapora” de Geraldo Filme, faz referência a proibição do negro nas romarias de Bom Jesus, veja nos versos:

“Você vai ser batizado / No samba de Pirapora / Mamãe fez uma promessa / Para me vestir de anjo / Me vestiu de azul-celeste / Na cabeça um arranjo / Ouviu-se a voz do festeiro / No meio da multidão / Menino preto não sai / Aqui nessa procissão...”

Cordões Carnavalescos

A formação instrumental do Batuque de Pirapora determinou a formação musical dos primeiros Cordões Carnavalescos de São Paulo, marcado pelo bumbo, tinha caixa e chocalho, junto a este instrumental foram se associando o que se chamava de conjunto choro, que era um conjunto feito de instrumentos de sopro e corda como violão, cavaquinho, banjo, bandolim e sopro como saxofone, trombone, clarinete. Tiraram o baliza de bastão e substituíram pela comissão de frente que veio do Rio de Janeiro, substituíram o estandarte pela bandeira acompanhada pelo mestre sala, anexaram a ala das baianas, que também não tinha em São Paulo. Em São Paulo tinha alas de frigideiras que também foi eliminada, por que a escola padrão do Rio de Janeiro não tinha. O primeiro Cordão Carnavalesco de São Paulo foi fundado por Dionísio Barbosa, Grupo Carnavalesco Barra Funda em 1914. O cordão foi obrigado a parar suas atividades durante o Estado Novo em 1937 que o relacionou com o Partido Integralista. Em 1953 foi reorganizado por Inocêncio Tobias como Escola de Samba Camisa Verde e Branco. “Foi criada a “Cidade da Folia”, um reduto de samba que se criou na década de 40(1940) lá no Parque Antarctica. Na Cidade da Folia desfilava os cordões, as escolas tudo ia prá lá, o povo ia de bonde”. Geraldo Filme - Historia de Geraldo Filme e Samba Paulista http://www.youtube.com/watch?v=-f-ZvER-9lc&feature=related

Que o Samba Brasileiro tem influência direta dos batuqueiros não resta qualquer dúvida a respeito. Também é certo que o Samba não nasceu pronto, este processo cultural que inclui os africanos, europeus e asiáticos influenciou e foi influenciado através de uma miscigenação racial de forma tão intensa e plural, formando uma nova identidade cultural interativa decorrente dos povos que aqui chegaram e dos que aqui estavam, mas que também se aculturaram desse novo saber, gerando um moto continuo cultural que se alimenta dos conhecimentos de seus ancestrais, de sua miscigenação e de seu aprendizado próprio nas terras do pau brasil.

Revista Samba Acadêmico Dexembro 2016 29 25