Samba Acadêmico Brasil Edição 09 ANO I Dezembro 2016 | Page 12

II

Em toda parte, a coreografia do samba se caracteriza pelo passo de deslize, de iniciativa individual e, portanto, sem outra regra fixa senão aquela de que é no pé que se diz, que se exprime, tudo o que o sambista sente.

No tambor de Crioula do Maranhão, no tambor do Piauí , no bambelô do Rio Grande do Norte, no samba de roda da Bahia, no samba partido alto da Guanabara, no Jongo do Estado do Rio e de São Paulo, no batuque e no samba lenço paulistas, no caxambu fluminense e mineiro, esta é a forma tradicional de expressão coreográfica daquilo que chamamos samba. Também acontecia o mesmo nas formas antigas, em especial o lundu e o baiano. Executa-se o coco do Nordeste Oriental, sapateado, que sofreu uma evolução diversa da das outras espécies.

A escola de samba, quer nos ensaios, quer nos desfiles de Carnaval, tem mantido a esta coreografia uma fidelidade que lhe traz honra. Um progresso legítimo foi a inclusão de exibições de passistas individuais em ensaios e desfiles, que tanta graça e beleza lhes têm acrescentado. O passo de deslize, de iniciativa do sambista, desautoriza e desaconselha, porém, a formação de grupos de passistas que, em vez de demonstrar a sua habilidade no samba, como deles se espera, - desenvolvendo cada qual os passos, letras e meneios que a sua perícia e domínio de si lhe permitam, - procuram imitar, ora o teatro de revista, ora o ballet, ora danças estrangeiras de vida efêmera como o rock’n’roll ou o twist. Não obstante possa haver alguma espécie de coordenação ou de sequência nos movimentos dos passistas, sugere-se que cada qual execute movimentos diferentes, descrevendo letras de sua inventiva ou predileção, no espírito próprio do samba. Tanto os passistas como os responsáveis pela sua exibição não devem esquecer que o samba cada dia cresce em expressividade e menos ainda tornar-se coniventes na sua substituição por formas gastas, estéreis, estagnadas ou pretensiosas, que nada têm a dizer.

Recomenda-se que as escolas mantenham, intransigentemente as baianas, o abre-alas, a porta bandeira e o baliza; que defendam a exclusividade da percussão na bateria; que prestigiem as suas alas masculinas e femininas, ampliando a sua autonomia.

A ginga de marcha, comum a quase todos os cortejos carnavalescos, precisa ser mantida, mas as evoluções das alas, e em especial das alas femininas, podem deixar de ser apenas a marcha das ginastas para descrever, sem quebra de autenticidade, desenhos geométricos diversos, que pelo seu número e variedade certamente emprestarão brilho e encanto extraordinários aos desfiles.

Carta do Samba - I Congresso Nacional do Samba 1962

12 Revista Samba Acadêmico Desxzembro 2016