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suplementation) do indivíduo possui profundas raízes antropológico-midiáticas (mediaanthropological) e pode apenas ser explicada em termos de história da mídia. A
condição formal mínima de suplementação de si próprio consiste no fato de que o
indivíduo em questão é integrado em uma díade – com um Outro real ou imaginário. A
questão da vida social do indivíduo isolado é ainda mais difícil: o que ocorre com o
animal de grupos pequenos, o homo sapiens, se ele permanece em forma puramente
individualista, tal qual o habitante solitário de seu apartamento mundo? Duas respostas
possíveis pareceriam óbvias: uma é que o indivíduo, por ele mesmo, brinca de ser a
horda inteira. Isso implica o esforço de representar doze ou vinte pessoas dentro de seu
mundo interior, membros de três gerações, no mínimo. Então, na ausência de Outros
verdadeiros, uma completa estrutura social tem que ser simulada.
A Psicologia considera a formação de múltiplas personalidades um sintoma
de enfermidade, uma grave perturbação no desenvolvimento da personalidade.
Do meu ponto de vista, múltipla personalidade não é outra coisa que a resposta
individual ao des-aparecimento (dis-appearance) de seu entorno social verdadeiro e é,
portanto, uma resposta plausível para a falta crônica de estimu-lação (stimu-lation)
social. A segunda possibilidade é relacionada com a prática moderna de fazer uma rede
de contatos (networking). A horda retorna disfarçada de agenda telefônica do Iphone.
Proximidade física não é mais condição necessária para sociabilidade. O futuro pertence
ao tele-socialismo (tele-socialism). O passado retorna como vida de tele-horda (telehorde life).
Você usa o título “Dialética da Modernização” para descrever como o
centro vazio da sociedade é preenchido com imagens ilusórias de um centro.
Em Esferas III, tento explicar porque devemos purgar de nosso vocabulário não
apenas duas portentosas palavras, revolução e massa, mas também o conceito de
“sociedade”, o qual sugere uma coerência que só poderia ser alcançada por meio de um
conformismo violentamente afirmado. O conglomerado de humanos que, desde o séc.
XVIII, chamou-se a si mesmo “sociedade” é, de modo preciso, não baseado nos pontos
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]