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surgido novamente. Desde então, uma proporção crescente de populações europeias
foram apreendidas por uma cultura de impaciência ou não-ser-capaz-de-esperar [notbeing-able-to-wait]. Durante os dias de Goethe, na Alemanha, apenas 20% da população
era urbanizada; 80% ainda viviam sob as antigas condições agrárias. Heidegger, a quem
eu gostaria, neste contexto, de relacionar como o último pensador da vida rural,
continua a interpretar o tempo existencial como tempo de espera e, assim, também
como tédio. O evento a que esta situação de espera leva é, naturalmente, algo
muitíssimo simples, a saber, o fato de que as coisas no campo lavrado tornam-se
maduras. O filósofo equipara este campo lavrado com a história do mundo, sem ter em
mente que os mundos da cidade já não podem assumir a forma de campos lavrados. Na
cidade, as coisas não amadurecem, elas são produzidas.
Sigo em frente a partir desta definição de vida residencial como ser-no-mundo
[being-in-the-world] colocada em espera, e da casa como um lugar de espera, para a
casa como um lugar de recepção, o lugar onde o trigo importante fica separado da palha
sem importância. A casa original é uma planta de habitação. Ao gastar muito tempo lá,
você se torna, inconscientemente, uma unidade habitual com os seus ambientes; você
habita por hábito4. Uma vez que isso tenha sido alcançado, o pano de fundo foi criado,
e o inusitado pode se destacar pela primeira vez contra esse pano de fundo. A vida
residencial é, a este respeito, uma prática dialética – torna-se útil a si mesma para o seu
oposto.
Em uma terceira etapa, desenvolvi a teoria da inserção ou imersão. Aqui, a teoria
filosófica do ser-em (being-in), como originada por Heidegger, é desenvolvida.
Respondo à questão do que significa ser em algo. Como isso acontece? Ilustrei estas
questões me baseando nas declarações de Paul Valéry, que interpretou o ser-em nos
termos do paradigma da arquitetura: para ele, a arquitetura significa que os homens
trancam os homens em trabalhos feitos por homens. Aqui, tocamos no lado totalitário da
arte da construção.
Finalmente, como o quarto estágio da explicação, exponho o nervo central
essencial do fenômeno da residência, a saber, o destino da casa como um sistema imune
4Aqui, Sloterdijk joga com as palavras “inhabit” e “habit”. No original, em inglês: “you inhabit by habit”. (N. T.)
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]