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começa com o chirotopo, o lugar da mão. E o que a mão tem a ver com a gênese do ser
humano? A resposta para essa questão fornece uma primeira versão da teoria da ação,
uma pragmática elementar. Enfrento, então, o phonotopo, o espaço de sons em que estão
os grupos que se ouvem. Este é seguido, então, pelo uterotopo, o espaço ocupado por
associações mais profundas de cavernas compartilhadas; o thermotopo, a esfera do
calor, ou o espaço onde você é mimado; e o erotopo, o lugar do ciúme e o campo do
desejo. (Gostaria de observar que a emergência do ciúme, específico da espécie
humana, foi extremamente importante para a gênese dos seres humanos, pois os
humanos são animais miméticos que sempre têm observado o que outros humanos
fazem, atentamente e ciosamente, de fato, até mesmo imitando aqueles que se
comportam com sucesso como se eles não observassem o que os outros estavam
fazendo). As próxima s dimensões são o ergotopo, o campo da guerra e do esforço; o
thanatotopo, o espaço de coexistência com a morte, em que prevalecem os símbolos
religiosos; e finalmente o nomotopo, o espaço das tensões legais que fornecem um
grupo com uma espinha dorsal normativa. O teorema da tensegridade de Buckminster
Fuller dá um papel importante para isso.
Desta teoria geral das ilhas, podemos derivar a cultura moderna do apartamento,
pois um apartamento funcionará apenas se for convincente como um mundo-ilha
minimamente completo para um indivíduo.
Não parece que, até agora, esta descrição contém a definição de residência,
do ser humano como um ser residencial?
Você deve entender que as casas são, inicialmente, máquinas para matar o
tempo. De fato, em uma fazenda primitiva, as pessoas esperam por um evento silencioso
nos campos, um que elas não podem influenciar mas que, graças a Deus, acontece
regularmente – a saber, o momento em que as sementes plantadas dão frutos. Em outras
palavras, as pessoas vivem inicialmente em uma casa porque se apoiam na convicção de
que é recompensador aguardar um evento fora da casa. No mundo agrário, a estrutura
temporal de residir em casas deve ser entendida em termos de compulsão para esperar.
Este tipo de ser-na-casa [being-in-the-house] foi desafiado pela primeira vez no curso da
Idade Média, quando no noroeste da Europa, uma cultura urbana mais abrangente havia
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]