Revista Redescrições | Page 94

94 de acomodação recíproca. Como o exemplo de um par de amantes mostra claramente, os amantes já estão juntos, de uma ou de outra maneira; eles são, de certa maneira, quando estão juntos, um no outro. O que significa que a questão clássica “No meu ou no seu apartamento?” é realmente supérflua. Além disso, ela oferece um bom exemplo de explicação: esta ida-para-algum-lugar-juntos-como-já-estando-juntos é a explicação cinética do que o ser-junto dos amantes implica. Devido aos dois já estarem implicitamente juntos, eles têm uma lista de opções de localizações explícitas. Você utiliza o exemplo arquitetônico do apartamento para mostrar o que o processo de explicação pode alcançar no que diz respeito à vida moderna residencial. Interpreto a construção do apartamento como a criação de um mundo-ilha para uma única pessoa. Para entender isso, você precisa admitir que a palavra mundo não significa apenas o grande todo que Deus e outros observadores joviais têm diante de si. Desde o início, os mundos sobem ao palco no plural e tem uma estrutura insular. Ilhas são miniaturas dos mundos, que podem ser habitadas como modelos do mundo. Por esta razão, devemos saber o que constitui uma ilha minimamente completa, uma ilha capaz de ser um mundo. No meu estudo sobre as “insulações” [Insulierungen], distingo entre três tipos diferentes de ilhas: a ilha absoluta, tal como uma estação espacial, que é colocada como um mundo da vida implantado em um meio social hostil à vida; a seguir, existem as ilhas relativas, como estufas para plantas (basta pensar no experimento bem conhecido Biosfera II); e finalmente, as ilhas antropogênicas, espaços construídos de tal maneira que os humanos possam emergir. Elas formam uma auto-insulação, um sistema dinâmico reminiscente de uma incubadora humana. E como isso é possível? Como pode, para argumentar em uma veia darwinista e filosófica, macacos entrarem em condições de egoidade [Selbstver-hällnisse]? Como o mecanismo antropogênico recebeu o pontapé inicial? Descrevo a ilha geradora humana como um espaço de nove dimensões, em que cada uma das dimensões deve existir para o efeito gerador humano ser desencadeado. Se apenas uma dimensão é ausente, você não consegue um humano completo. Tudo Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]