Revista Redescrições | Page 92

92 proteção”, nesta forma. Quando em espaços pequenos, muitas pessoas se sentem presas e desenvolvem respostas claustrofóbicas. Poderíamos dividir as pessoas entre habitantes de cavernas e moradores de árvores – para umas, é o amor à concha que conta; para outras, o amor à espacialidade. Eu não poderia ter dito isso melhor. A teoria das esferas não busca explicar tudo. Ela não é uma teoria universal, mas uma forma explícita de interpretação espacial. Aliás, você pode dar conta de todas as maneiras de diferentes tipos de espaços a partir do ponto de vantagem da pré-natalidade – grandes espaços oceânicos de um lado e espaços confinados infernais do outro. O Esferas I é endereçado aos fenômenos microesferológicos em geral. Estes fenômenos são sempre interpessoais em estrutura, e o relacionamento diádico me oferece, aqui, o paradigma. Mostro como deveríamos construir a díade humana e segui-la de volta até a proto-intersubjetividade pré-natal. A descoberta, aqui, é a de que, inicialmente, o relacionamento não é tanto mãe/criança, mas sim criança/placenta. A duplicação original tem lugar em um nível pré-pessoal, pelo vínculo formado pelo assim chamado cordão umbilical psico-acústico. Aqui, eu me inspiro no pensamento de Alfred Tomatis e outros autores que têm arado este campo complicado3. Eles relacionam o ouvido fetal como o órgão de ligação primária. Isso é bastante irritantemente excitante para aqueles que aceitam o postulado, e absurdo para aqueles que não acreditam que há um problema aqui. Qual o papel que desempenha, aqui, o ato da explicação? A explicação é uma matéria não apenas dos instrumentos conceituais que desenvolvemos para iluminar os fenômenos da vida – tais como a habitação, o trabalho e o amor –, ela não é só um processo cognitivo. Pelo contrário, está ligada à elaboração de verdade. Isso pode apenas ser alcançado com o uso de uma lógica expressiva, ou uma lógica de produção. É desnecessário dizer que aqui eu estou seguindo a tradição da antropologia marxista e/ou pragmatista. Se for verdade que toda a história natural é necessária, a fim de explicar a formação da mão humana (ou melhor, a diferença entre pata e mão), então é do mesmo modo verdadeiro que nós precisamos de toda a história cultural para explicar a diferença entre ruídos e linguagens. 3Cf. Alfred A. Tomatis, The Conscious Ear. Barrytown, NY: Station Hill Press, 1991. Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]