Revista Redescrições | Page 91

91 fertilizado, o portador da in-formação (in-formation) genética, é posto em um ambiente exterior que vagamente possui as propriedades de um útero ou ninho externos. Agora, algo muito incrível acontece na linha evolucionária que leva até os mamíferos: o corpo das fêmeas da espécie é definido como um nicho ecológico para a sua descendência. Isso leva a uma dramática virada interna na evolução. O que nós vemos é um uso dual das fêmeas de uma espécie: de agora em diante, elas não são somente sistemas de ovos postos (em um senso metabiológico, feminilidade significa a fase bem-sucedida de um sistema de ovulação), mas elas põe os ovos dentro de si próprias (them-selves) e tornam seu próprio corpo disponível como um nicho eco-lógico (eco-logical) para sua descendência. Desso modo, elas se tornam mães animais integradas. O resultado é um tipo de evento que não existia antes no mundo: nascimento. É o proto-drama que forma o que vai da partida do ambiente total primário até a chegada como um indivíduo. Assim, o nascimento é um tipo de evento biológico tardio e tem consequências ontológicas. A expressão “ser nascido” (to be born) enfatiza o lado animal; a expressão “ver a luz do dia” enfatiza a diferença existencial. Uma lógica bastante explícita é necessária para explicar isso. Você está dizendo que a projeção da experiência primária básica opera em todas as atividades arqui-teturais (arch-tectural) posteriores? Exatamente. Aqui o lado criativo da projeção emerge. Projeção, obviamente, não se refere, como em psic-análise (psicho-analysis), aos meros sentimentos (isto é, às afetações confusas), mas ao processo de criação espacial per se. Se nós perguntarmos, então: que interiores os seres desejarão ter se eles carregarem consigo as marcas de terem nascido? Então a resposta deve ser: eles optariam, sem dúvida, por interiores que os permitissem projetar um traço do estado arcaico de projeção em suas construções de conchas tardias. A construção de conchas para a vida cria uma série de repetições do útero em ambientes ao ar livre. Arquitetos precisam entender que eles estão no meio entre biologia e filosofia. Biologia lida com o meio ambiente; filosofia, com o mundo. Mas isso não explica a grande diversidade de necessidades espaciais humanas. Nem todos os indivíduos repercutem o desejo de um “estado arcaico de Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]