Revista Redescrições | Page 89

89 temáticos e arquiteturas de eventos. A arquitetura anuncia a abolição do mundo externo. Ela abole mercados de fora e os traz para dentro, para uma esfera fechada. Os tipos espaciais antagonistas do salão e do mercado formam um híbrido. Isto é o que Benjamin considerou tão intelectualmente excitante: o cidadão do séc. XIX procura expandir sua sala de estar para um cosmos e, ao mesmo tempo, imprimir a forma dogmática de um quarto ao universo. Isso provoca uma tendência que é aperfeiçoada no design de apartamentos do séc. XX, bem como no design de shoppings e estádios – esses são os três paradigmas da moderna construção, isto é, a construção de microinteriores e macrointeriores. Le Corbusier uma vez disse que tínhamos que escolher entre revolução e arquitetura. Ele optou pela arquitetura. Em sua interpretação, isso significa que ele votou pela explicação de condições residenciais? Revolução é simplesmente a palavra errada escolhida para descrever explicação. Um engenheiro sempre opta pela melhor tecnologia. Tudo que é bem-sucedido é operacional, enquanto que fases revolucionárias não chegam a lugar algum, durante o tempo em que não contiverem habilidades potenciais reais. Esse é o motivo pelo qual ninguém pergunta hoje que programa está sendo anunciado, mas que programa está sendo escrito. A escrita é um arquétipo da habilidade: a invenção da escrita marca o início da subversão operacional do mundo como ele existe. Apenas ela é efetiva em popularizar modos novos de lidar com as coisas. Incidentalmente, os apartamentos modernos estão cheios de eletrodomésticos técnicos que explicam a vida no lar. As ferramentas atuais não mais possuem mãos, porque as mãos pertencem a um passado fora de moda, entregues a aparelhos com botões: chegamos ao mundo de operações de ponta de dedo. Para retornar a Benjamin: em que medida devemos ler essa referência aos interiores maiores como uma explicação para o capitalismo? Assim como Freud tentou explicitar os sonhos, Benjamin propôs um tipo de interpretação onírica do capitalismo. Meu trabalho explicativo se refere ao dinamismo espacial de nosso estar-no-mundo. Eu quero mostrar como toda forma de espaço criado Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]