Revista Redescrições | Page 74

74 Segundo Rorty a religião propõe uma redenção através de uma relação com um ser transcendente, que ao mesmo tempo, tem poder para criar e salvar. Na filosofia, tal mudança ocorre através da aquisição de crenças “corretas”, buscando compreender como a realidade é. Já a cultura literária, apresenta a possibilidade de redenção através de um contato intenso e amplo com os seres humanos, aumentando a rede de contatos, de maneira a não buscar uma “crença verdadeira” o que estagnaria o pensamento, fech ando-o em si mesmo. Com isso, até mesmo a religião e a filosofia passam a ter uma nova compreensão, sendo percebidas apenas como gêneros literários, materiais para o consumo intelectual. Logo, o intelectual seria aquele que lê a maior gama de livros possíveis, na busca de encontrar respostas, soluções para questões humanas, promovendo uma nova autoimagem da humanidade. Mas, qual o motivo de ser de uma Cultura literária em Rorty? Ora, o é pelo fato de q ue neste âmbito não se aceita uma essência, uma natureza intrínseca, uma “humanidade comum” entre os seres humanos, mas, que existem tantas possibilidades para “ser” um ser humano quanto há humanos. Para este filósofo a busca está direcionada para um autoconhecimento, uma “verdade” que indique possibilidades de nos orientar para quais atitudes tomar conosco. Um cultura assim, seria a bússola que nos guiaria. Ler é o caminho para alcançarmos ideais, como deveríamos viver melhor, ou, que futuro buscamos. Assim, tomamos contato com muitas alternativas e não ficamos presos a um vocabulário. Isso ocorre para todo aquele que valoriza a autonomia na construção de si mesmo. Segundo Rorty, “Gente comum não lê livros para buscar novos propós itos. Quem faz isso são os intelectuais”. (RORTY, 2006. p. 75). E intelectual não significa ser melhor que o que não lê, mas, aquele que esta sempre em rumo a novas e variadas possibilidades de existência. Desta maneira podemos argumentar que nas sociedades democráticas a melhor maneira de garantir o direito à vida em sociedade, à participação nas discussões e vida política, a uma discussão pública, é através da autocriação fomentada por tal desempenho através do contato com os mais variados textos. Esta é a melhor maneira cultural de garantir tais direitos. Para este pensador, uma cultura assim, não pode ser restrita a um livro, a uma visão de mundo e de ser humano, da mesma maneira que nenhum argumento solitário de um texto, artigo, pode dar conta de todas as questões existentes. O todo não pode ser dito de maneira única. “Nenhum conhecimento, de nenhuma ordem, pode servir necessariamente para todos do mesmo modo. Assim, tal cultura é a que preserva melhor os ideais da liberdade, da diversidade e da tolerância, os próprios esteios das sociedades democráticas.” (CARVALHO, 2010). Rorty diz que poesia é todo conjunto de conhecimentos adquiridos que nos permite Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 70/78]