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Segundo Rorty a religião propõe uma redenção através de uma relação com um ser
transcendente, que ao mesmo tempo, tem poder para criar e salvar. Na filosofia, tal mudança
ocorre através da aquisição de crenças “corretas”, buscando compreender como a realidade é.
Já a cultura literária, apresenta a possibilidade de redenção através de um contato intenso e
amplo com os seres humanos, aumentando a rede de contatos, de maneira a não buscar uma
“crença verdadeira” o que estagnaria o pensamento, fech ando-o em si mesmo. Com isso, até
mesmo a religião e a filosofia passam a ter uma nova compreensão, sendo percebidas apenas
como gêneros literários, materiais para o consumo intelectual. Logo, o intelectual seria aquele
que lê a maior gama de livros possíveis, na busca de encontrar respostas, soluções para
questões humanas, promovendo uma nova autoimagem da humanidade. Mas, qual o motivo
de ser de uma Cultura literária em Rorty? Ora, o é pelo fato de q ue neste âmbito não se aceita
uma essência, uma natureza intrínseca, uma “humanidade comum” entre os seres humanos,
mas, que existem tantas possibilidades para “ser” um ser humano quanto há humanos. Para
este filósofo a busca está direcionada para um autoconhecimento, uma “verdade” que indique
possibilidades de nos orientar para quais atitudes tomar conosco. Um cultura assim, seria a
bússola que nos guiaria. Ler é o caminho para alcançarmos ideais, como deveríamos viver
melhor, ou, que futuro buscamos. Assim, tomamos contato com muitas alternativas e não
ficamos presos a um vocabulário. Isso ocorre para todo aquele que valoriza a autonomia na
construção de si mesmo.
Segundo Rorty, “Gente comum não lê livros para buscar novos propós itos. Quem faz
isso são os intelectuais”. (RORTY, 2006. p. 75). E intelectual não significa ser melhor que o
que não lê, mas, aquele que esta sempre em rumo a novas e variadas possibilidades de
existência. Desta maneira podemos argumentar que nas sociedades democráticas a melhor
maneira de garantir o direito à vida em sociedade, à participação nas discussões e vida
política, a uma discussão pública, é através da autocriação fomentada por tal desempenho
através do contato com os mais variados textos. Esta é a melhor maneira cultural de garantir
tais direitos. Para este pensador, uma cultura assim, não pode ser restrita a um livro, a uma
visão de mundo e de ser humano, da mesma maneira que nenhum argumento solitário de um
texto, artigo, pode dar conta de todas as questões existentes. O todo não pode ser dito de
maneira única. “Nenhum conhecimento, de nenhuma ordem, pode servir necessariamente para
todos do mesmo modo. Assim, tal cultura é a que preserva melhor os ideais da liberdade, da
diversidade e da tolerância, os próprios esteios das sociedades democráticas.” (CARVALHO,
2010). Rorty diz que poesia é todo conjunto de conhecimentos adquiridos que nos permite
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 70/78]