Revista Redescrições | Page 73

73 intelectual. Essa nova proposta também foi apresentada por Wittgeinstein, James e Dewey, buscando uma nova autoimagem do ser humano e de mundo. Essa capacidade de, em primeiro lugar, redescrever-se, passa pela capacidade de duvidar se si mesmo, de estar sempre fazendo e refazendo a si mesmo. Isso nos leva a pensar a proposta de Rorty como um projeto, pelo qual os vocabulários disponíveis são sempre passíveis de mudanças e adaptações. Ao analisarmos o conceito de contingência de Richard Rorty, deparamo-nos uma argumentação que nos oferece a noção no qual “A verdade não pode ser dada.” (RORTY, 2007, p. 28). O autor não busca uma verdade já existente, mas uma utopia que leve o ser humano a estar sempre se redescobrindo. Verdade é apenas uma palavra- função da nossa linguagem, uma propriedade de entidades linguísticas chamadas frases. Portanto, quando interpretamos a realidade podemos redescobri- la, e a perspectiva linguística pode realizar tal tarefa. Por isso é necessário alargar nosso vocabulário, uma vez que, diante de uma realidade tão vasta a escrita e a reflexão propõe compreender o mundo e a si mesmo: As pessoas escrevem a partir de uma necessidade de comunicação e de comunhão com os outros, para denunciar aquilo que machucava e compart ilhar o que traz alegria. As pessoas escrevem contra sua própria solidão e a solidão dos demais porque supõem que a literatura transmite conhecimentos, age sobre a linguagem e a conduta de quem a recebe, e nos ajuda a nos conhecermos melhor, para nos salvarmos juntos. Em realidade, a gente escreve para as pessoas com cuja sorte ou má sorte se sente identificado: os que comem mal, os que dormem pouco, os rebeldes e humilhados desta terra; que em geral nem sabem ler 1 Conhecer é o primeiro passo necessário para começar a mudar qualquer realidade, afinal, não existe experiência de mudança social e política que não tenha que trilhar os caminhos passando pelo aprofundamento da consciência sobre realidade. Neste sentido, a literatura promove a possibilidade de uma nova percepção da realidade, que diante de problemas sociais, políticos econômicos, serve como ferramenta na busca de um mundo novo. Isso ocorre porque a experiência de contato com diversos autores e suas linguagens, atua sobre a consciência incentivando a criatividade e desenvolvendo horizontes de possibilidades. Tal ideia é abrangente, e diz respeito a todo tipo de mensagem que leve o individuo para dentro e para fora de si, longe do “status quo”, não aceitando a realidade de maneira passiva. Por isso temos o que Rorty chamaria de “O Declínio da Verdade Redentora e a Ascensão da Cultura Literária”. 1 GA LEANO, Eduardo, In: Vo zes e crônicas. São Pau lo: Global/ Versus, 1978) Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 70/78]