Revista Redescrições | Page 72

72 Para isso nada melhor que uma reflexão na perspectiva rortyana. Segundo Rorty, não devemos pensar o mundo como possuidor de uma natureza que seja intrínseca, uma essência, algo que lhe seja subjacente, incluindo nisso o próprio ser humano. Para ele, a verdade não é algo que está aí para ser descoberta. Neste sentido, a contingência, além de ser comp reendida como constante movimento, também deve ser compreendida como incompletude. O mais interessante é que, para Rorty, isso ocorre porque não há nada para ser completado. Portanto, o máximo que podemos fazer é nos mantermos abertos para revisar e expandir nossa linguagem, redescobrindo nossa contingência. Segundo o filósofo Richard Rorty, nos últimos duzentos anos, a literatura teve mais poder para sensibilizar a humanidade diante de suas crises, mais força, do que pensamentos filosóficos “densos”, abrindo-se à discussão para a perspectiva da sensibilidade, à multiplicidade do universo da sensibilidade, das relações, relacionando-se também com o universo cultural. Para este pensador, “O mundo em si (...) não pode sê-lo.” (RORTY, 2007, p. 28), pois para que o mundo seja, são necessárias atividades descritivas da humanidade. Porque, segundo Rorty, são as nossas diversas e múltiplas linguagens que dão sustentação ao mundo. Por isso, ele quer chamar a atenção para a cultura literária que, por sua vez, tem condições de oferecer muitas alternativas que extendam nosso "vocabulário final". A tese geral de Rorty é de que não devemos pensar o mundo como possuidor de uma natureza que seja intrínseca, uma essência, algo que lhe seja subjacente, incluindo nisso o próprio ser humano. E a verdade não é algo que está aí para ser descoberto. Com isso, fugimos da ideia de que o “mundo” ou o “eu” tenham uma natureza intrínseca e enfrentamos a contingência da linguagem que usamos, a partir do “(...) reconhecimento da contingência da linguagem que usamos”. (RORTY, 2007, p. 35). O que nos dispomos é refletir sobre a leitura, a escrita, para que possam ser concebidas como elementos emancipatórios numa sociedade cada vez mais ampla, carregadas de pensamentos sempre mais antagônicos. LITERATURA E REDESCRIÇÃO DA REALIDADE Esta pesquisa busca explorar e aprofundar uma percepção de homem e de mundo que já havia começado, segundo Rorty, com pensadores como Nietzsche, Heidegger e Derrida, ao apresentar uma nova proposta de tradição de pensamento, no qual ocorre a vitória da poesia sobre a filosofia indicando que a literatura tem um poder fundamental em tempos atuais. Nessa nova tradição, fica ressaltada a idéia da redescrição como meio privilegiado do trabalho Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 70/78]