Revista Redescrições | Page 7

7 “Os médicos não te curarão, pois morrerás ao fim”.1 O sentido da morte sempre foi um enigma para o pensamento humano. A morte não é marginalizada na história da filosofia. A atividade reflexiva filosófica, por atentar acerca do modo de vida,2 incorpora a consciência da finitude como um dos pontos centrais da reflexão sobre a existência. O homem não só morre, mas sabe que morre: um pensador não permanece apático diante de tal ideia. É justo refletir sobre nossa natureza finita. Na obra Fédon, por exemplo, Platão ressalta: “Receio porém, que, quando uma pessoa se dedica à filosofia no sentido correto do termo, os demais ignoram que sua única ocupação consiste em preparar-se para morrer e estar morto.”3 A preparação para morte é o principal objetivo da atividade filosófica. Ainda nesta linha, Montaigne, filósofo do século XVI, grande sistematizador do saber antigo, cita Cícero: “Diz Cícero que filosofar não é outra coisa senão se preparar para a morte”. 4 Esta preparação pautada pela filosofia também é considerada por Sêneca: “Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”. 5 Já os medievais trataram de questões existenciais não só concernentes à vida e à morte: mencionavam problemas relacionados à vida eterna e à morte eterna. Por fim, os modernos e, dentre estes, Blaise Pascal retoma o termo em meio a uma Apologia da Religião Cristã ou, como ficou conhecido, nos Pensamentos. Será neste autor que focaremos, em nossa pesquisa. Assim, buscaremos responder a seguinte questão: Qual é o sentido da morte para Blaise Pascal? Saber o sentido implica conhecer o significado da morte, sua relevância e as consequências comportamentais do conhecimento desta ideia. Para este estudo, nosso objeto será alguns fragmentos da obra Pensées (136, 434, 308, 933 e 418) e Écrits sur la grace. Sustentamos que o sentido da morte para Pascal não é unívoco, mas plural, já que em cada texto a morte assume um sentido. Nosso 1 PASCAL, Blaise. Pensées, Laf. 919, Bru. 553. 2 Sobre a relação entre a filosofia e modo de vida ver HADOT, Pierre. O que é filosofia antiga? 2ª ed. São Paulo: Ed. Paulinas, 2004. 3 PLATÃO. Fédon. 64a. Ver também Maria Cecília l. Gomes dos REIS. A morte e o sentido da vida em certos mitos gregos antigos In: Marcos Freury de OLIVEIRA & Marcos H. P. CALLIA (orgs). Reflexões sobre a morte no Brasil. São Paulo: Paulus. 4 MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. I, XX. 5 SÊNECA. Sobre a brevidade da vida, VII, 3-4. Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 6/18]