65
O que não se pode “mostrar” em questões éticas e estéticas, pode ser experimentado
por meio da habilidade do assombrar-se. O estado de assombro ou contemplação
transcende o nível de análise linguístico ou científico, embora pode ao menos
expressar-se esteticamente, por exemp lo, na poesia, na pintura e na música. O uso
frequente de metáforas, símiles e exemp los fict ícios é u m meio de ao menos “aludir”
o que não pode ser expresso pela linguagem ordinária. (SOMA VILLA , 2013, p. 65)
Pode parecer contraditório, mas os artistas, como, por exemplo Shakespeare, não
dizem, apenas mostram através de suas palavras, gestos e ações as mais elevadas e variadas
coisas relacionadas com os sentimentos humanos, algo que afeta o homem, e quem é afetado
por uma obra sente uma dificuldade natural em expressar e descrever verbalmente essa
experiência:
Poderia dizer-se que Shakespeare mostra a dança das paixões humanas. Por este
motivo, tem de ser objetivo; de outro modo não mostraria a dança das paixões, mas
falaria dela. Mas mostra-no-la numa dança e não de modo naturalista.
(WITTGENSTEIN, 2000, p. 61)
Esse possível paradoxo é importante porque faz referência a uma significativa
distinção entre o mostrar e o falar, os quais ocorrem no interior da atividade artística, porque
para aquele que reconhece, por meio do olhar, algo sublime, sente, geralmente, a tendência
inevitável de procurar nomear e descrever e comunicar, tornando público aquilo que vê. É
justamente nessa tentativa de colocar em palavras um