Revista Redescrições | Page 61

61 acontece no sujeito que faz a experiência da apreciação artística. “Wittgenstein abre a porta para uma visão antiessencialista da obra artística, a qual não se definiria por propriedades, mas sim pelos usos que fazemos dela e pelo que ela mesma nos faz” (MARRADES, 2013, p. 13). E ainda, segundo as considerações de Moreno (2000, p. 61): Consideremos u m exemplo, to mado do próprio Wittgenstein: quando ouço uma peça musical e a compreendo, como, então, exp licar ess a experiência a alguém? Uma maneira precisa de fazê-lo será, entre outras, gesticular, por exemplo, dançar expressivamente. São esses comportamentos que Wittgenstein quer investigar, por dizer respeito à expressão de uma experiência com a arte e ser o modo humano de compreender a arte. Portanto, o juízo estético (um gesto ou uma expressão facial) tem com Wittgenstein uma topografia irregular e bem mais abrangente, uma vez que a sua região pode estender-se desde a afirmação que algo é belo, a um gesto, a uma expressão facial. “A novidade com Wittgenstein é que a todos estes comportamentos podemos chamar juízos estéticos” (CRESPO, 2011, p. 289). Ele mostra que aquilo a que se está habituado a chamar juízo estético quase não tem referência na vida cotidiana 3 : “um fato característico acerca de nossa linguagem é o de que grande número de palavras são usadas em circunstâncias que tais são adjetivos – „lindo‟, „adorável‟, etc. Mas vocês percebem que não são absolutamente necessárias” (WITTGENSTEIN, 1966, p. 16). Nesse sentido, Wittgenstein entende o juízo estético 4 como um determinado tipo de comportamento por parte daquele que soube apreciar a arte; o juízo estético resulta do reconhecimento e da conformidade com um estipulado tipo de regras 5 , com uma certa ideia de exatidão. A questão em voga é a da possibilidade em descrever e identificar as regras de que depende o juízo estético. Wittgenstein não só reconhece a existência de regras estéticas como afirma que “as palavras a que chamamos expressões de juízo estético desempenham uma função complicada, mas assaz definida, naquilo que denominamos de cultura de um período” 3 É importante dizer que Wittgenstein não pretende negar a existência de adjetivos estéticos que têm a finalidade de expressar agrado ou desagrado, mas chama atenção para a vida real, na qual expressões como belo e feio são mais