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O comportamento humano, até as empreitadas mais teóricas, está em
continuidade com o comportamento dos assim chamados “organismos
inferiores”. Não há diferença de espécie entre Einstein desenvolver sua teoria
da relativ idade e u ma lagosta pegar um camarão que sempre lhe escapa49 .
Justificar a crença de que a ciência pode apontar soluções para os problemas
filosóficos é o desafio de Dewey. A questão proposta por ele é: por que a filosofia foi
considerada um saber que não pode assumir questões da ciência e vice-versa? Dewey
denuncia que, no processo de divisão do trabalho relativo ao saber, a filosofia ficou com
as questões morais e espirituais e a ciência, com “as questões práticas”; ele mostra que
essa divisão só veio reforçar, mais uma vez, os dualismos da tradição ocidental entre
saberes práticos e teóricos.
Segundo Korblitzh, a tendência deweyana de reclamar um insight científico para
a filosofia está presente até mesmo em autores tradicionais. Descartes, por exemplo,
“não era tolo de buscar uma epistemologia que fosse isolada da melhor ciência
disponível em sua época”
50
. Acontece que não havia uma boa ciência na época de
Descartes. Mesmo assim, seu objetivo nas Meditações era “encontrar qualquer coisa na
ciência que fosse estável e possivelmente duradoura” 51 . Como sua obra precedeu a
Revolução Científica, ele foi encontrar seus fundamentos epistêmicos fora da ciência.
Mas Dewey argumenta que, embora a filosofia reivindique para si uma independência
em relação à ciência, os filósofos tomaram para si várias fontes e conclusões de outras
áreas do conhecimento, em especial da ciência que predominou em seus respectivos
momentos. Ocorre que eles introduziram as conclusões diretamente na filosofia, sem
conferi- las quer com os objetos empíricos de onde se originaram, quer com os objetos
empíricos para os quais se destinavam. Para ilustrar melhor, Dewey escreve:
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