Revista Redescrições | Page 48

48 O comportamento humano, até as empreitadas mais teóricas, está em continuidade com o comportamento dos assim chamados “organismos inferiores”. Não há diferença de espécie entre Einstein desenvolver sua teoria da relativ idade e u ma lagosta pegar um camarão que sempre lhe escapa49 . Justificar a crença de que a ciência pode apontar soluções para os problemas filosóficos é o desafio de Dewey. A questão proposta por ele é: por que a filosofia foi considerada um saber que não pode assumir questões da ciência e vice-versa? Dewey denuncia que, no processo de divisão do trabalho relativo ao saber, a filosofia ficou com as questões morais e espirituais e a ciência, com “as questões práticas”; ele mostra que essa divisão só veio reforçar, mais uma vez, os dualismos da tradição ocidental entre saberes práticos e teóricos. Segundo Korblitzh, a tendência deweyana de reclamar um insight científico para a filosofia está presente até mesmo em autores tradicionais. Descartes, por exemplo, “não era tolo de buscar uma epistemologia que fosse isolada da melhor ciência disponível em sua época” 50 . Acontece que não havia uma boa ciência na época de Descartes. Mesmo assim, seu objetivo nas Meditações era “encontrar qualquer coisa na ciência que fosse estável e possivelmente duradoura” 51 . Como sua obra precedeu a Revolução Científica, ele foi encontrar seus fundamentos epistêmicos fora da ciência. Mas Dewey argumenta que, embora a filosofia reivindique para si uma independência em relação à ciência, os filósofos tomaram para si várias fontes e conclusões de outras áreas do conhecimento, em especial da ciência que predominou em seus respectivos momentos. Ocorre que eles introduziram as conclusões diretamente na filosofia, sem conferi- las quer com os objetos empíricos de onde se originaram, quer com os objetos empíricos para os quais se destinavam. Para ilustrar melhor, Dewey escreve: Th