Revista Redescrições | Page 46

46 da consciência, de tal sorte que o mental se constituiu isolado e separado, autossuficiente e fechado em si mesmo. Uma epistemologia contemporânea não pode desconhecer o esforço de Dewey quando este descreve o mundo complexo, uma mistura de ordem e de desordem, de certeza e incerteza, de trigo e joio, argumentando que o reconhecimento desse fato possui significação fundamental para construir uma epistemologia naturalista. A filosofia clássica, ao contrário, sai em busca do eterno e imutável no ser, fundamenta-se no conhecimento derivado de uma ciência primeira que fornece uma base comum e universal, bem como princípios racionalmente puros. Assim, concebe-se como uma ciência que está além da experiência e cujo procedimento se baseia num saber contemplativo ou teórico. Ela se dedicaria ao estudo das coisas que existem independentemente dos homens e de suas ações, como se isso fosse possível. A ideia de uma teoria da contemplação do eterno é rejeitada por Dewey, assim como a pretensa capacidade da mente de intuir verdades indubitáveis, fato esse que o coloca na direção contrária ao cogito cartesiano. Relação entre Filosofia e Ciência De Waal comenta que, para Dewey, “o caso paradigmático de aquisição do conhecimento não é o do cientista ou do filósofo que ociosamente contempla este ou aquele assunto em seus estudos profundos”, mas decorre da emergência de um problema concreto que exige uma resposta 43 . Essa emergência é derivada daquilo que Dewey chamou de situações indeterminadas,