Revista Redescrições | Page 37

37 das vertentes teóricas, a noção de experiência na dimensão da consciência privada separada da natureza e do mundo, ou seja, algo subjetivo e exclusivamente mental, separado do estado objetivo das coisas 18 . Como se vê, a experiência foi concebida pelas doutrinas tradicionalistas como algo não natural. Se fosse natural, não seria totalmente confiável. Dessa forma ela é pensada numa direção totalmente distinta, fazendo abstração da sua concretude e crueza. A experiência é concebida de um modo ideal e irreal. O que é curioso é que a tendência de desacreditar a experiência humana concreta não é requisito apenas da conduta da filosofia profissional, mas é algo que vai muito além das preocupações técnicas. Na verdade a filosofia se apropria de uma subjetivação exagerada do que se passa na experiência popular. Com base nessas ideias, Dewey se opõe tanto ao empirismo clássico quanto ao racionalismo cartesiano em relação ao papel dado à experiência e o apego que essa tradição filosófica mantém pelo universal e sua consequente busca por princípios estáticos para assegurar a nossa compreensão cognitiva do mundo. Dessa forma, ao se contrapor aos dualismos da filosofia tradicional, Dewey apresenta sua filosofia empírica como forma de superação das oposições binárias, que transformaram a filosofia num campo de guerra de “temperamentos” e de “questões domésticas”. Para se contrapor a esse emaranhado de teorias elaboradas a partir dos “humores” de seus propositores, Dewey argumenta que a filosofia precisa utilizar outro método de investigação. Assim, o método empírico e o espírito científico enquanto inquirição e como experiência exigirá o uso de teorias e hipóteses, devendo ser estendido a outras áreas da cultura, em especial à filosofia. Dewey argumenta que a sua referência à experiência decorre da relação necessária entre esta e método empírico, pois se este fosse “adotado no filosofar, não haveria necessidade de referência à experiência” 19 . Não há outra forma de compreender a experiência do conhecimento a não ser pela relação entre os processos não cognitivos e os processos cognitivos. Pensar a experiência sem a unidade entre esses processos é condição para obter determinados tipos de conclusões envolvendo entidades extranaturais ou sobrenaturais. Quando não considera essa unidade, a filosofia segue seu padrão clássico, ou seja, elege os dados espirituais, o predomínio do mental sobre as outras esferas da vida. 18 GEIGER, G. R. John Dewey in Perspective - a reassessment. New York; Toronto; London: McGraw-Hill Book Co., 1958, p.07. 19 DEW EY, John. Experience and Nature. New Yo rk: Dover Publications, Inc., 1958, p. 08. Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]