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das vertentes teóricas, a noção de experiência na dimensão da consciência privada
separada da natureza e do mundo, ou seja, algo subjetivo e exclusivamente mental,
separado do estado objetivo das coisas 18 .
Como se vê, a experiência foi concebida pelas doutrinas tradicionalistas como
algo não natural. Se fosse natural, não seria totalmente confiável. Dessa forma ela é
pensada numa direção totalmente distinta, fazendo abstração da sua concretude e
crueza. A experiência é concebida de um modo ideal e irreal. O que é curioso é que a
tendência de desacreditar a experiência humana concreta não é requisito apenas da
conduta da filosofia profissional, mas é algo que vai muito além das preocupações
técnicas. Na verdade a filosofia se apropria de uma subjetivação exagerada do que se
passa na experiência popular.
Com base nessas ideias, Dewey se opõe tanto ao empirismo clássico quanto ao
racionalismo cartesiano em relação ao papel dado à experiência e o apego que essa
tradição filosófica mantém pelo universal e sua consequente busca por princípios
estáticos para assegurar a nossa compreensão cognitiva do mundo. Dessa forma, ao se
contrapor aos dualismos da filosofia tradicional, Dewey apresenta sua filosofia empírica
como forma de superação das oposições binárias, que transformaram a filosofia num
campo de guerra de “temperamentos” e de “questões domésticas”.
Para se contrapor a esse emaranhado de teorias elaboradas a partir dos “humores”
de seus propositores, Dewey argumenta que a filosofia precisa utilizar outro método de
investigação. Assim, o método empírico e o espírito científico enquanto inquirição e
como experiência exigirá o uso de teorias e hipóteses, devendo ser estendido a outras
áreas da cultura, em especial à filosofia. Dewey argumenta que a sua referência à
experiência decorre da relação necessária entre esta e método empírico, pois se este
fosse “adotado no filosofar, não haveria necessidade de referência à experiência”
19
.
Não há outra forma de compreender a experiência do conhecimento a não ser
pela relação entre os processos não cognitivos e os processos cognitivos. Pensar a
experiência sem a unidade entre esses processos é condição para obter determinados
tipos de conclusões envolvendo entidades extranaturais ou sobrenaturais. Quando não
considera essa unidade, a filosofia segue seu padrão clássico, ou seja, elege os dados
espirituais, o predomínio do mental sobre as outras esferas da vida.
18
GEIGER, G. R. John Dewey in Perspective - a reassessment. New York; Toronto; London:
McGraw-Hill Book Co., 1958, p.07.
19
DEW EY, John. Experience and Nature. New Yo rk: Dover Publications, Inc., 1958, p. 08.
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]