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analítico e o sintético pertencem à mesma ordem de questões que Dewey tinha
investigado. É o próprio Quine que declara:
Filosoficamente estou ligado a Dewey pelo naturalismo que do minou suas
três últimas décadas. Co m Dewey, eu sustento que conhecimento, mente e
significados são partes do mesmo mundo com que eles têm a ver e que eles
têm de ser estudados com o mesmo espírito empírico que anima a ciência
natural. Não há lugar para u ma filosofia a priori 6 .
Consciente de que não há uma filosofia a priori, Dewey tem como propósito
argumentar a favor do conceito de experiência na perspectiva do seu pragmatismo e
discutir a partir daí a questão do método filosófico enquanto método empírico. Ele
entende que os significados e as crenças podem ser compreendidos como entidades
mentais, mas são resultantes dos processos interacionistas, da chamada arte social. Por
isso, ele não pretende reeditar as velhas querelas filosóficas entre aqueles que estão
simplesmente tratando questões filosóficas por meios empíricos e os mais tradicionais,
que argumentarão que esse uso não conduzirá à investigação puramente filosófica.
Dewey concordaria com Quine, que a teoria da cópia, ou seja, a teoria
representacionista em suas várias formas, permanence próxima da principal tradicão
filosófica, o racionalismo, mas também de uma atitude típica do senso comum 7 . E
Quine concordaria com Dewey em que essa separação entre a experiência de uma mente
privada e a do mundo físico tanto está presente no senso comum quanto na filosofia
técnica. Portanto, Dewey se dispõe a pensar o conhecimento a partir de bases
naturalizantes, sobretudo porque rejeita a clássica relação epistemológica entre sujeito e
objeto, uma vez que esta não considera a complexidade de relações envolvendo a
constituição e a produção do conhecimento.
Sobre esta afirmação quineana, quando nos deparamos com as crenças em torno
das divisões da experiência, bem como com a hierarquização e a classificação dos
saberes, essas situações parecem tão óbvias e tão banais que o senso comum mostra não
haver necessidade de análise ou mesmo de definição dos pares de termos envolvidos:
corpo-mente, sujeito-objeto, indivíduo-sociedade, meio- fim, etc. Essas dualidades
aparecem como se fossem pré-estabelecidas. No âmbito do senso comum, não há lugar
6
QUINE, W. O. V. et ali. A relatividade ontológica. In: Ensaios. Editor: Victor Civita, p. 139.
QUINE. W.O.V. Ontological Relativy and Other Essays, Epistemology Naturalized . New
Yo rk, Colu mb ia Press, 1969, p. 69.
7
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]