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Concepção de Conhecimento em Dewey
A objeção de Dewey à epistemologia clássica consiste em sua recusa em
considerar o conhecimento, de qualquer tipo, como uma questão de representação
mental, tal qual a ideia de um museu da mente, no qual as coisas são etiquetadas pelo
poder da razão. Nesse sentido, o conhecimento é conexão e não representação. Não é
possível tratá- lo isoladamente, por si só, mas adotando a perspectiva da complexidade e
da utilidade. A apropriação adequada do tema do conhecimento pelos homens não é
aquela que o considera como um fim em si mesmo, pelo contrário, tem a ver com as
reais necessidades humanas. O conhecimento tem sentido enquanto ação finalística que
nos permite agir no mundo.
Portanto, sua concepção de conhecimento é contingente e histór ica. Com essas
características é necessário à utilização de outro método filosófico, no caso em questão,
o método empírico. Para designar sua concepção de realidade, Dewey, inicialmente,
utiliza-se das expressões naturalismo empírico; empirismo naturalista e humanismo
naturalista4 . Por essa perspectiva é possível identificar em sua obra uma articulação
teórica entre o idealismo e o empirismo, especialmente quando conjuga o historicismo
ao cientismo. Podemos inferir que há uma epistemologia naturalizada sendo gerada. No
entanto, sua proposta é muito mais ontológica que epistemológica. Entretanto, seja
ligado à epistemologia, seja ligada a outra área da filosofia, o certo é que Dewey
anuncia, no começo do século XX, parte de um programa filosófico de continuidade
entre filosofia e ciência, cujas consequências incidirão em obras desenvolvidas por
pensadores mais próximos do final desse mesmo século.
Ele protagoniza o debate que tomará corpo na filosofia contemporânea na
segunda metade do século XX 5 . Nos países de língua inglesa, na primeira metade do
século XX, havia uma atitude bem hostil a uma epistemologia naturalizada. Seu
ressurgimento ocorre na segunda metade desse mesmo século, na obra de Quine, no
artigo Epistemology Naturalized. Esse ensaio traz à luz a discussão que Dewey
empreendeu no começo do século sobre a inevitável conexão da filosofia às ciências.
Como componente desse contexto, encontra-se a rejeição aos dualismos da tradição
filosófica na tese de Quine sobre os Two dogmas of Empiricism [Dois dogmas do
empirismo]. Tanto o dogma do reducionismo quanto o dogma da separação entre o
4
DEW EY, John. Experience and Nature. New York: Dover Publications, Inc., 1958, p.1a.
QUINE. W.O.V. Ontological Relativy and Other Essays, Epistemology Naturalized . New
Yo rk, Colu mb ia Press, 1969, p. 69.
5
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]