Revista Redescrições | Page 32

32 Concepção de Conhecimento em Dewey A objeção de Dewey à epistemologia clássica consiste em sua recusa em considerar o conhecimento, de qualquer tipo, como uma questão de representação mental, tal qual a ideia de um museu da mente, no qual as coisas são etiquetadas pelo poder da razão. Nesse sentido, o conhecimento é conexão e não representação. Não é possível tratá- lo isoladamente, por si só, mas adotando a perspectiva da complexidade e da utilidade. A apropriação adequada do tema do conhecimento pelos homens não é aquela que o considera como um fim em si mesmo, pelo contrário, tem a ver com as reais necessidades humanas. O conhecimento tem sentido enquanto ação finalística que nos permite agir no mundo. Portanto, sua concepção de conhecimento é contingente e histór ica. Com essas características é necessário à utilização de outro método filosófico, no caso em questão, o método empírico. Para designar sua concepção de realidade, Dewey, inicialmente, utiliza-se das expressões naturalismo empírico; empirismo naturalista e humanismo naturalista4 . Por essa perspectiva é possível identificar em sua obra uma articulação teórica entre o idealismo e o empirismo, especialmente quando conjuga o historicismo ao cientismo. Podemos inferir que há uma epistemologia naturalizada sendo gerada. No entanto, sua proposta é muito mais ontológica que epistemológica. Entretanto, seja ligado à epistemologia, seja ligada a outra área da filosofia, o certo é que Dewey anuncia, no começo do século XX, parte de um programa filosófico de continuidade entre filosofia e ciência, cujas consequências incidirão em obras desenvolvidas por pensadores mais próximos do final desse mesmo século. Ele protagoniza o debate que tomará corpo na filosofia contemporânea na segunda metade do século XX 5 . Nos países de língua inglesa, na primeira metade do século XX, havia uma atitude bem hostil a uma epistemologia naturalizada. Seu ressurgimento ocorre na segunda metade desse mesmo século, na obra de Quine, no artigo Epistemology Naturalized. Esse ensaio traz à luz a discussão que Dewey empreendeu no começo do século sobre a inevitável conexão da filosofia às ciências. Como componente desse contexto, encontra-se a rejeição aos dualismos da tradição filosófica na tese de Quine sobre os Two dogmas of Empiricism [Dois dogmas do empirismo]. Tanto o dogma do reducionismo quanto o dogma da separação entre o 4 DEW EY, John. Experience and Nature. New York: Dover Publications, Inc., 1958, p.1a. QUINE. W.O.V. Ontological Relativy and Other Essays, Epistemology Naturalized . New Yo rk, Colu mb ia Press, 1969, p. 69. 5 Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]