Revista Redescrições | Page 29

29 volume do que nos chegou do pensamento chinês é representado por objetos talismânicos (na forma de textos!), receitas práticas de bom viver, dizeres oraculares, conversações cujo contexto nos escapa, manuais de ritos. Certamente há muitos textos argumentativos, mas na maioria deles não se verifica uma preocupação com as questões que moviam os gregos. Agora, no que diz respeito à “Índia”, há filósofos ocidentais que reconhecem a existência de filosofia lá, como Arthur Danto faz no Transfiguração do lugar-comum. Impressionou-me quando li na abertura de um dos capítulos, Danto falar categoricamente que só dois lugares do planeta conheceram a filosofia, sendo tais lugares a Grécia e a Índia. As razões que ele dá pra isto estão ligadas à filosofia da arte que ele desenvolve em Transfiguração do lugar-comum. A Brillo Box faz Danto pensar na questão fundamental do livro: por qual motivo as caixas do Warhol são arte e as caixas de Brillo no supermercado não são? Danto vê como característi ca do discurso filosófico uma preocupação com a distinção entre o real e o aparente que, segundo ele, só se vê na Índia e na Grécia. Danto talvez tivesse um bom argumento para explicar o pensamento da Índia antiga como sendo filosófico. Mas como Danto não estava nem aí (nem precisaria estar) para o pensamento da Índia, ele não desenvolveu o argumento na obra dedicada à filosofia da arte. De qualquer modo, talvez a postura de Danto seja uma sugestão de que há algo no pensamento filosófico que não é propriamente grego, que mesmo tendo encontrado na Grécia as suas condições ideais de desenvolvimento, também pode ser encontrado em discursos desenvolvidos por outras civilizações, como é o caso da preocupação do aparente versus o real à qual se refere. Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 27/29]