Revista Redescrições | Page 24

24 as mulheres ao deixar marcas profundas de sofrimento que resistem na cultura e é passada de geração para geração. Outro momento emblemático da entrevista, Laura comenta: “minha mãe até ho je ela não refez, ela não é u ma mu lher feliz, ela tem aquela mágoa por dentro dela, do meu pai, só chifrava, colocava chifre, não respeitava, xingava perto de nóis, uma vez ele pegou um revólver pra matar ela do nosso lado, nóis entrô na frente, entendeu?” Da leitura desses fragmentos podemos observar que Laura é uma mulher que sofre violência cotidianamente desde os 14 anos. Hoje ela tem 23, trabalha numa loja de tecidos, mas é obrigada a sustentar a casa e ainda ter seu dinheiro controlado pelo marido. As dificuldades de uma vida subjugada aparecem na não reação à violência sofrida e no fato de não abandonar o marido e sair de sua casa com medo de perder o único bem que ela tem. Laura está presa a um ciclo de violência que inicia com a violência vivida pela mãe, permanece como continuação natural de filha adulta que está presa numa relação sem saída. Ela teme que sua filha de 5 anos passe pela mesma experiência de violência. Suspeito que o lugar de fala dela, ainda que frágil se deu quando ela denunciou o marido na delegacia e depois no momento em que deu essa entrevista. Ela não queria parar de contar sua história, mesmo sem condições de continuar falando, pois estava no seu local de trabalho e era cobrada o tempo todo para atender aos clientes. Penso que o grande desafio para lidar com a situação de violência contra a mulher tendo por base a teoria do feminismo pós-colonial é justamente entender que esta é um dos muitos caminhos que podemos escolher para analisar essa realidade que passa por momentos de transição e mudanças frenéticas. Talvez outra possibilidade seja o que propõe Michéle Barrett e Anne Phillips(2002, p.22), Desestabilizar la oposiciòn igualdad/diferencia tamb ién nos puede llevar a maravillarnos del empeño com que las feministas hemos construído uma falsa polaridade a partir de la cual divid irnos. Porque la d iferencia no es um absoluto, sino que se construye de diversos modos, según lo que se percebe como sobressaliente em un contexto particular. Sin embargo, es más difícil tratar la cuestión de si las feministas pueden o deberían desestabilizar la oposición binaria entre ho mbres y mu jeres que da a la categoria de mu jer su significado, y co mo podrían o deberían hacerlo. Co mo há señalado Denise Riley, „mu jer‟ es sin duda uma categoria inestable, pero sus inestabilidades son la matéria prima de la polít ica femin ista. Obliterar la oposición hombre/ mujer es, pues, um passo que edifica sobre arena la lucha feminista em cuanto tal”. Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 19/26]