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do movimento. Daí vem que a prisão seja um suplício tão horrível […]” 17 A diversão é o
que consola os homens de suas misérias, impedindo o homem de pensar em si, em sua
condição finita e mortal: “Sem ela (a diversão) ficaríamos entediados, e esse tédio nos
levaria a buscar um meio mais sólido de sair dele, mas a diversão nos entretém e nos faz
chegar insensivelmente à morte.”18 O divertissement possuiria um poder letárgico.
Portanto, podemos dizer que o segundo sentido da morte é psicológico: a morte está
vinculada ao tédio, ao torpor, ao repouso, à dissolução de sentido, à angustia, em suma a
tudo aquilo que o homem deseja recalcar. Mas se o divertissement falhar, como
reagirmos frente a certeza da morte iminente?
3. Morte e resignação: fragmento 434
No fragmento 43419, Pascal aguça nossa imaginação ao descrever uma imagem
trágica:
Imagine-se certo número de homens em grilhões, todos condenados à morte,
sendo que alguns são degolados a cada dia na presença dos outros; aqueles
que ficam vêem a sua própria condição na de seus semelhantes e, olhando-se
uns aos outros na dor e sem esperança, esperam a sua vez. Essa é a imagem
da condição dos homens. (SIC)
Esta é a imagem da consciência da morte, da condenação derradeira, do destino
certo e inevitável. A cada momento, um destes homens é degolado na frente de todos os
outros prisioneiros. A cena é cheia de dor e sem esperança. Mas o que estes condenados
poderiam fazer? Nada! Simplesmente esperam a sua vez. Pascal termina o fragmento
afirmando que essa “é a imagem da condição dos homens”, ou seja, veem seus
semelhantes morrerem, sabem que esse é seu futuro iminente, contudo, não há nada a se
fazer. O fragmento 165 também parece sugestivo: “O último ato é sempre sangrento,
por mais bela que seja a comédia em todo resto. Lança-se finalmente terra sobre a
cabeça e aí está para sempre.” 20 O pensador francês não esconde a visão da morte como
a etapa derradeira e inevitável de cada homem.
17 Ibid.,, Laf. 136, Bru. 139.
18 Ibid., Laf. 414, Bru. 171. (grifo nosso).
19 PASCAL, Blaise. Pensées, Laf. 434, Bru. 199).
20 Ibid., Laf. 165, Bru. 183.
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 6/18]