Revista Redescrições | Page 104

104 hipersociologias. Nesse sentido, a teoria da espuma é uma policosmologia. Então, cada bolha de sabão é um cosmos em si mesma? Não, isso seria novamente uma construção excessivamente autista. Na verdade, nós temos de lidar aqui com uma teoria discreta da coexistência. Todo ser-no-mundo possui traços de coexistência. A questão do ser, que é tão acaloradamente discutida por filósofos, pode ser feita aqui em termos da coexistência de pessoas e coisas em espaços conjuntos. Isso implica uma quádrupla relação: ser significa alguém (1) estar junto de alguém mais (2) e com algo mais (3) dentro de algo (4). Essa fórmula descreve a complexidade mínima que é preciso construir a fim de se chegar a um conceito apropriado de mundo. Arquitetos estão envolvidos nesse pensamento, já que, para eles, ser-no-mundo significa habitar em uma construção. Uma casa é uma resposta tridimensional à questão de como alguém pode estar junto de alguém e algo dentro de algo. De seu próprio modo, os arqui-tetos (arch-tects) interpretam essa que é a mais enigmática de todas as pre-posições (pre-positions), nomeadamente o “em”. Por que você pensa que a preposição “em” é enigmática? Porque ela realça tanto o ser-contido-em quanto o ser-no-lado-de-fora. Pessoas são seres ekstáticos. Elas estão, para usar os termos de Heidegger, sempre retidas no lado de fora, no aberto; jamais podem estar definitivamente incluídas em algum contêiner – a não ser em sepulturas, é claro. Em sentido ontológico, elas estão “no lado de fora”, no mundo, mas elas só podem estar no lado de fora na medida em que estão estabilizadas a partir do lado de dentro, por algo que lhes dê firme suporte. Essa conformação precisa ser enfatizada nos dias de hoje, em contraste ao v