Revista Redescrições | Page 101

101 deu-se na década de 1960. Então, a Arquitetura mudou sua dire-ção (direct-ion), com a cidade em foco novamente – nomeadamente, a cidade como algo intangível, indefinível, irredutível. O conceito de capsula desaparece; a cidade é, então, construída como um tecido. O conceito de rede marca o começo da marcha do pósmodernismo para frente, o que deixa de lado o individualismo utópico da década de 1960. Você está certo na medida em que a crítica à arquitetura de cápsula significa a crítica ao autismo urbano. Mas deixe-me apontar um risco complementar. Toda a conversa sobre rede e tecido tende a neutralizar o espaço existencial, e eu penso que isso é tão perigoso quanto o individualismo de capsula. O pensamento a partir de redes (net think-ing) inclui apenas pontos e interfaces que formam a base da noção de duas ou mais linhas ou curvas que se cruzam, fornecendo uma cosmovisão, cujo elemento constitutivo é o ponto. Os teóricos de redes pensam em termos radicalmente não espaciais, isto é, em duas dimensões; eles usam o conceito de anorexia para interpretar sua relação com o seu próprio meio ambiente. Seus gráficos revelam que a organização do mundo individual é vista como uma intersecção entre linhas sem volume. Eu, em contraste, vou pelo conceito de bolha de espuma ou de célula mundo para mostrar que até mesmo o elemento individual já contém uma intrínseca expan-são (expan-sion). Não devemos retornar a uma ontologia do ponto, mas tomar, como variável mínima em nosso pensamento, a célula que é capaz de constituir um mundo. Um pouco mais de monadologia não faz mal a ninguém: a mônada não é um ponto desprovido de extensão; ela tem o caráter de um micromundo. “Célula” expressa o fato de que o lugar individual tem o formato de um mundo. As metáforas de tecido ou rede, talvez, forneçam nós momentâneos a você, mas você não pode habitar um nódulo. Em contraste, a metáfora da espuma enfatiza a espacialidade microcósmica intrínseca de cada célula individual. Entretanto, a metáfora implica uma questão: onde isso levaria caso perguntado no contexto da Arquitetura? Arquitetos tendem a considerar imagens literalmente. Isso já aconteceu tempos atrás. Frei Otto é um dos arquitetos modernos que tentou derivar estruturas espaciais naturais ou organo-mórficas (organo-morphics) de Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]