Revista Redescrições | Page 99

99 caso, a contabilidade do olho-por-lho é abandonada e substituída por uma economia “trans-capitalista” de generosidade e doação. Empreender uma mudança do modo de vingança para o de perdão permite também reverter a perspectiva, passando-se de um ponto de vista orientado ao passado para um ponto de vista orientado ao futuro. (2005b, p 53). Baseado nessas considerações, em termos gerais, Sloterdijk caracteriza o político dentro de uma esfera da seguinte maneira (2005b, p. 36): • Grupos políticos são assembleias sob pressão thymótica endógena; • Ações políticas são resultados de diferenças em pressões thymóticas dentro e fora de esferas; • Campos políticos são formados pelo pluralismo espontâneo de forças autoafirmadoras. Eles mudam suas relações entre si de acordo com uma fricção inter-thymótica; • Opiniões políticas resultam de operações simbólicas impulsionadas pelos recursos thymóticos de um coletivo; • Retórica – a arte de manipulação emocional de uma assembleia política – é a ciência aplicada do thymos; • Lutas por poder dentro de um corpo político são sempre também motivadas por considerações thymóticas dos protagonistas e de seus seguidores. Para evitar total desestabilização, mecanismos para remediar os perdedores precisam funcionar. Na primeira seção deste artigo, concluímos que Sloterdijk concebe comunidades como esferas humanas com um específico e favorável clima. Podemos agora adicionar a essa definição que o clima dessa esfera depende do jogo entre duas forças psicodinâmicas: eros e thymos (1999, p. 1010). Administrar eros e thymos é uma tarefa complexa, já que eles precisam permanecer separados e juntos em equilíbrio. Somente nessas circunstâncias, uma esfera pode ser preservada. Os habitantes continuam a ser protegidos contra hostilidades do lado de fora e enfrentam condições favoráveis que os permitem evoluir em direção a maiores complexidades. É nesse ponto que Sloterdijk introduz o conceito de imunização. Para especificar a função das esferas, ele argumenta que elas são veículos de aprendizado, produzindo Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]