Revista Redescrições | Page 93

93 ação histórica requer alguma referência geográfica que é, então, relegada ao passado (PROZOROV, 2010, p. 10). Por essa razão, ele qualifica a alteridade temporal como uma quimera da alteridade espacial e a dispensa como uma estratégia identitária. A terceira estratégia para superar o impasse identitário discutida por Prozorov é o conceito de Agamben de falência (AGAMBEN, 2000, p. 142; PROZOROV, 2010, p. 18). Apesar do fato da falência estar no passado – e, portanto, uma referência a ele possa parecer uma alteridade temporal da forma acima exposta –, ela é uma experiência que ultrapassa o presente e não pode ser transcendida. No coração da abordagem de Agamben sobre a falência está a compreensão de que o sujeito é sempre também o que foi, ou, de modo mais sucinto, o sujeito é sempre também o outro. Desse ponto de vista, a política identitária é obviamente vã, já que contradiz a si própria. Consequentemente, por ordem de coerência, posições identitárias precisam ser abandonadas. São intenções deste artigo apresentar ainda outro argumento para resolver o impasse ontológico da política mundial e mostrar como essa solução pode ser traduzida em princípios governantes para a comunidade mundial. Para fazê-lo, exploraremos o conceito de co-imunização de Sloterdijk. Embora a estrutura ontológica desse argumento se pareça bastante com a abordagem de Badiou e de Agamben, sua derivação segue um caminho diferente. Sloterdijk formula uma ontologia que parte de uma observação de que a chegada à existência dos seres humanos se inicia no útero da mãe. O indivíduo nunca está sozinho, e, por essa razão, a divisão entre sujeito e os outros representa uma posição antropologicamente cega. Insistindo nesse fato, Sloterdijk propõe uma antropologia espacial dentro de esferas, criada e habitada por mais de um indivíduo. Esferas possuem tanto dimensões materiais quanto intangíveis. A formulação de esferas amplas e complexas permite a Sloterdijk criar um vocabulário mais perspicaz para o que é mais usualmente referido como globalização e universalização. De acordo com Sloterdijk, o governo da esfera global contemporânea, que ele na verdade caracteriza como espuma, deveria ser guiado por considerações imunológicas ou, como expressa ele, por co-imunização. Este artigo discutirá o argumento de Sloterdijk, respondendo às seguintes questões: • Qual é a estrutura básica das comunidades? (comunidades como esferas). • Qual é a política das comunidades? (política de eros e thymos). Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]