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ação histórica requer alguma referência geográfica que é, então, relegada ao passado
(PROZOROV, 2010, p. 10). Por essa razão, ele qualifica a alteridade temporal como
uma quimera da alteridade espacial e a dispensa como uma estratégia identitária.
A terceira estratégia para superar o impasse identitário discutida por Prozorov é
o conceito de Agamben de falência (AGAMBEN, 2000, p. 142; PROZOROV, 2010, p.
18). Apesar do fato da falência estar no passado – e, portanto, uma referência a ele possa
parecer uma alteridade temporal da forma acima exposta –, ela é uma experiência que
ultrapassa o presente e não pode ser transcendida. No coração da abordagem de
Agamben sobre a falência está a compreensão de que o sujeito é sempre também o que
foi, ou, de modo mais sucinto, o sujeito é sempre também o outro. Desse ponto de vista,
a política identitária é obviamente vã, já que contradiz a si própria. Consequentemente,
por ordem de coerência, posições identitárias precisam ser abandonadas.
São intenções deste artigo apresentar ainda outro argumento para resolver o
impasse ontológico da política mundial e mostrar como essa solução pode ser traduzida
em princípios governantes para a comunidade mundial. Para fazê-lo, exploraremos o
conceito de co-imunização de Sloterdijk. Embora a estrutura ontológica desse
argumento se pareça bastante com a abordagem de Badiou e de Agamben, sua derivação
segue um caminho diferente. Sloterdijk formula uma ontologia que parte de uma
observação de que a chegada à existência dos seres humanos se inicia no útero da mãe.
O indivíduo nunca está sozinho, e, por essa razão, a divisão entre sujeito e os outros
representa uma posição antropologicamente cega. Insistindo nesse fato, Sloterdijk
propõe uma antropologia espacial dentro de esferas, criada e habitada por mais de um
indivíduo. Esferas possuem tanto dimensões materiais quanto intangíveis. A formulação
de esferas amplas e complexas permite a Sloterdijk criar um vocabulário mais perspicaz
para o que é mais usualmente referido como globalização e universalização. De acordo
com Sloterdijk, o governo da esfera global contemporânea, que ele na verdade
caracteriza como espuma, deveria ser guiado por considerações imunológicas ou, como
expressa ele, por co-imunização. Este artigo discutirá o argumento de Sloterdijk,
respondendo às seguintes questões:
• Qual é a estrutura básica das comunidades? (comunidades como esferas).
• Qual é a política das comunidades? (política de eros e thymos).
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]