Revista Redescrições | Page 86

86 visual, mas não sabemos ao certo, já que existem formas muito distintas de alucinações (as de forma verbal sendo as mais complicadas e mais profundamente tratadas pela psicanálise, como alucinações auditivas sofridas por pacientes surdos26). Tratando-se de uma alucinação visual, supõe-se que o alucinado aponte na direção que ele estaria internamente experimentado de uma imagem produzida pelo delírio mental, pois ao apontar ele diz que lhe estão no encalço. Tem-se um gesto, uma frase e a suposição de que esse gesto corresponda à imagem interna, numa ordem subjetiva e exclusiva ao alucinado; gesto porém igualmente visto, por quem estiver presente na ocasião, simultâneo àquelas palavras, “como se” alguém lá estivesse. A conclusão passeia leve pelos lábios: ninguém lá está onde ele aponta, logo ele está delirando; e, do ponto de vista de uma teoria da percepção de perspectiva clássica (que postula como condição epistemológica a existência física de um objeto que está em contato com um sujeito percipiente), a alucinação é tida como um erro dos sentidos, um defeito perceptivo, um fracasso epistêmico. Evans define sua hallucination da seguinte maneira, gostaríamos aqui de decupá-la conforme acontece no texto: Alucinar é precisamente estar numa condição na qual parece que se está confrontando alguma coisa. Então, é claro que parecerá correto ao alucinador dizer que ele realmente está confrontando alguma coisa; é bem plausível que a situação seja uma em que ele está mesmo confrontando alguma coisa. Neste ponto, com tal plausibilidade, vislumbra-se possível um início de análise do sentido oculto nesse confronto: é bem plausível que uma subjetividade delirante esteja implicada num gesto e numa frase. Poderia uma quest