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Em certo momento do livro de Evans, onde se busca por quais meios
interlocutores se exprimem com um referente em vista e visando a comunicação,
deparamo-nos com uma noção curiosa e de nome saliência. Saliência do objeto,
saliência objetal. É um parágrafo tranqüilo de Evans:
A saliência pode ser trazida a termo pelo próprio falante, como quando ele
faz um gesto de apontar para acompanhar a proferência de uma expressão
demonstrativa, ou tornando o objeto saliente de uma outra maneira, por
exemplo, mexendo ele, oscilando-o, ou fazendo com que um feixe da luz de
um holofote caia sobre ele. Alternativamente, um falante pode explorar umas
saliências extremas e elevadas que o objeto já tem de qualquer maneira (sem
que seja preciso trazê-la a termo); por exemplo, um falante pode dizer “Ele
teve o bastante” [“He's had enough”], quando numa linha de soldados um
deles se torna saliente ao desfalecer. Seja qual for o caso, se um objeto é
saliente, assim o será apenas àqueles que têm um certo tipo de informação do
objeto, ... logo, apenas àqueles que estão em posição de pensar o objeto numa
certa maneira invocatória de informação24.
A partir da idéia de saliência, perguntamos então: o que se salienta, nas
Variedades, do objeto de estudo que é a loucura? Essa pergunta, para sabermos em que
posição se encontra esta filosofia relativamente ao campo expressivo e ao material de
análise e tratamento das psicoses, e que informações ela própria confere à saliência que
escolheu enfrentar em suas preocupações com a loucura. Falamos assim porque a
loucura se salienta em Evans por meio das ocorrências (não poucas, o que mostra a
insistência do tema) da alucinação. Não nos será vantajoso aqui elucubrar a respeito de
que tipo de alucinação Evans se refere, mesmo porque em nenhum momento ele
especifica o fenômeno alucinatório que lhe instiga, sendo usado ao longo do livro tão
somente o termo hallucination, que para todos os efeitos é vago demais. Ao invés disso,
por precaução, proferimos nosso interesse aqui por alucinações que entram no complexo
sistema de significações de uma psicose (embora também noutros casos, como quando
se alucina por efeito da experimentação de drogas, a alucinação nunca seja superficial).
Tomemos uma das ocorrências da alucinação em Evans: “Se considerarmos um
sujeito que, alucinando, aponta pro espaço vazio e diz, “Ele está vindo me pegar”, eu
espero que todo mundo concorde que ele falhou em dizer alguma coisa (pois ele
claramente falhou em tornar manifesto o tipo de intenção que ele deveria ter tornado
manifesto de modo a dizer alguma coisa)”25. Parece tratar-se de uma alucinação de tipo
removido, e os terapeutas, que tentam curar a primeira espécie desse tipo de preocupação.”
24
(EVANS: 1982, p. 312-313).
25
(EVANS: 1982, p. 338).
Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 77 a 89]