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Este exemplo levantado por somas mereológicas suscita uma modificação das
concepções tradicionais acerca dos objetos e, mais ainda, da alegação de conhecimento
possível que deles temos, e de que suas propriedades possíveis são passíveis de
mudanças centrais. Segundo Putnam:
O realista tradicional parte do princípio de que os nomes gerais
correspondem, de maneira mais ou menos unívoca, a várias “propriedade” de
“objetos”, em algum sentido de “propriedade” e em algum sentido de
“objeto” estabelecidos de uma vez por todas, e de que as alegações de
conhecimento são simplesmente alegações sobre a distribuição dessas
“propriedades nesses “objetos” (PUTNAM, 2008, p.22)
Putnam considera que o realista tradicional está completamente certo em um
ponto: ele tem a acertada convicção de que a realidade é independente, e que as
descrições que dela fazemos e chamamos de ‘mundo’ devem manter uma espécie de
responsabilidade cognitiva. Em que pese essa imagem, não devemos a ela conectar a
noção de que existe uma descrição ou descrições que estão postas de uma vez por todas,
todas elas possíveis, e com as quais devemos nos referir, necessariamente, a essa mesma
realidade. A afirmação seguinte de Putnam é que com esta imagem das descrições que a
metafísica tradicional preconiza perdemos o mais importante e verdadeiro aporte do
pragmatismo: “o de que a ‘descrição’ nunca é uma mera cópia e de que estamos sempre
criando novas maneiras de a linguagem poder ser responsável perante a realidade”
23
(2008c, p. 22).
Embora essa contribuição possa ser tomada de vários modos, tal como o próprio
James
24
e Putnam o fizeram, esse diz que não estamos habilitados a concluir o mesmo
que aquele, a saber, que nós criamos, em parte, o mundo. Ora, para Putnam a existência
de uma realidade independente de nós é algo do qual não podemos duvidar a sério, e o
simples fato de assumir isso já o coloca na categoria daqueles que aderem ao realismo.
A característica agora enfatizada é a recusa da chamada ingenuidade do realismo
tradicional, segundo a qual existe uma totalidade fixa de objetos e propriedades em cuja
relação descobrimos as propriedade para denotar os objetos.
O que motiva esta dispensa da ingenuidade do realismo tradicional é a
compreensão de que nossa linguagem e seu evidente uso estão colocados desde sempre,
e que não devemos transigir com a ideia de que as propriedades, expressadas pelos
23
Esse consideração é, segundo Putnam, inspirada em William James.
Ver o texto O Empirismo Radical, de William James. Esse texto está relacionado na obra
Pragmatismo e textos selecionados, arrolado na bibliografia desse trabalho.
24
Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 49 a 76]