Revista Redescrições | Page 65

65 palavras com respeito às quais não existem propriedades comuns a todos os objetos a que estas palavras se aplicam com correção. Desse modo, estabelece-se uma visão metafísica segundo a qual a realidade é apresentada como “um conjunto fixo de objetos ‘independentes da linguagem’ e uma ‘relação’ fixa entre os termos e suas extensões” (PUTNAM, 1999, p. 102). Putnam nos traz a reflexão de que os objetos não são independentes da linguagem, ao mesmo tempo em que afirma que a imagem de mundo “não é o produto da nossa vontade – nem das nossas disposições para falar de determinadas maneiras” (1999, p. 103). Com isso, Putnam está a dizer que a linguagem exerce a função de elaborar um vocabulário que possa estabelecer uma conexão com o mundo, vocabulário que pode ser melhor elaborado, com o fim de referir-se melhor do que antes aos objetos. Podemos dizer que Putnam quer enfatizar a importância da linguagem em todo o trâmite da tarefa de representar o mundo. Na visão da metafísica tradicional, julga-se que a linguagem é impassível do ponto de vista da representação. Isso quer dizer que, frente ao mundo, a tarefa linguística consiste em estabelecer a função de designadora, sendo esta linguagem, porém, neutra. A neutralidade linguística dos termos que compõem a realidade implica uma imagem de mundo em que o instrumental fornecido pela linguagem serve meramente como expressão verbal de nossas impressões e representações. Outra questão suscitada pela crítica ao mencionado tipo de realismo tradicional “é o pressuposto confortável de que há uma totalidade definida de objetos que pode ser classificada, bem como uma totalidade definida de todas as propriedades” (2008, p.19). A crítica de Putnam à definição peremptória do universo de objetos que podem ser referidos, e a coleção fixa de propriedades, pode levantar a falsa objeção segundo a qual o mundo é totalmente construído pelos indivíduos22. Todavia, Putnam observa que nossas pretensões de conhecimento se dirigem a uma realidade em geral independente dos indivíduos, ou melhor, dos falantes. Embora Putnam corrobore a ideia de que há uma realidade independente dos falantes, ele está seguro de que “a reflexão sobre a experiência humana sugere que nem a forma de todas as alegações de conhecimento nem os modos pelos quais elas são 22 Para maiores elucidações a essas críticas feitas a Putnam, ver BOGHOSSIAN, Paul. Medo do conhecimento: contra o relativismo e o construtivismo, 2012, pp. 61-63. São Paulo: editora senac. Esta contestação de Boghossian toma como exemplo a noção de descrição da realidade constante na obra de Putnam Realismo de Rosto Humano, capítulo 6, intitulado Verdade e Convenção. Falar-se-á a respeito dessas críticas quando comentarmos o caráter não relativista do realismo interno. Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 49 a 76]