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palavras com respeito às quais não existem propriedades comuns a todos os objetos a
que estas palavras se aplicam com correção.
Desse modo, estabelece-se uma visão metafísica segundo a qual a realidade é
apresentada como “um conjunto fixo de objetos ‘independentes da linguagem’ e uma
‘relação’ fixa entre os termos e suas extensões” (PUTNAM, 1999, p. 102). Putnam nos
traz a reflexão de que os objetos não são independentes da linguagem, ao mesmo tempo
em que afirma que a imagem de mundo “não é o produto da nossa vontade – nem das
nossas disposições para falar de determinadas maneiras” (1999, p. 103). Com isso,
Putnam está a dizer que a linguagem exerce a função de elaborar um vocabulário que
possa estabelecer uma conexão com o mundo, vocabulário que pode ser melhor
elaborado, com o fim de referir-se melhor do que antes aos objetos.
Podemos dizer que Putnam quer enfatizar a importância da linguagem em todo o
trâmite da tarefa de representar o mundo. Na visão da metafísica tradicional, julga-se
que a linguagem é impassível do ponto de vista da representação. Isso quer dizer que,
frente ao mundo, a tarefa linguística consiste em estabelecer a função de designadora,
sendo esta linguagem, porém, neutra. A neutralidade linguística dos termos que
compõem a realidade implica uma imagem de mundo em que o instrumental fornecido
pela linguagem serve meramente como expressão verbal de nossas impressões e
representações.
Outra questão suscitada pela crítica ao mencionado tipo de realismo tradicional
“é o pressuposto confortável de que há uma totalidade definida de objetos que pode ser
classificada, bem como uma totalidade definida de todas as propriedades” (2008, p.19).
A crítica de Putnam à definição peremptória do universo de objetos que podem ser
referidos, e a coleção fixa de propriedades, pode levantar a falsa objeção segundo a qual
o mundo é totalmente construído pelos indivíduos22. Todavia, Putnam observa que
nossas pretensões de conhecimento se dirigem a uma realidade em geral independente
dos indivíduos, ou melhor, dos falantes.
Embora Putnam corrobore a ideia de que há uma realidade independente dos
falantes, ele está seguro de que “a reflexão sobre a experiência humana sugere que nem
a forma de todas as alegações de conhecimento nem os modos pelos quais elas são
22
Para maiores elucidações a essas críticas feitas a Putnam, ver BOGHOSSIAN, Paul. Medo do
conhecimento: contra o relativismo e o construtivismo, 2012, pp. 61-63. São Paulo: editora senac. Esta
contestação de Boghossian toma como exemplo a noção de descrição da realidade constante na obra de
Putnam Realismo de Rosto Humano, capítulo 6, intitulado Verdade e Convenção. Falar-se-á a respeito
dessas críticas quando comentarmos o caráter não relativista do realismo interno.
Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 49 a 76]