63
funcionam como os denominados critérios de aceitabilidade. Em uma palavra, os
conceitos trazidos aqui são condições para que o empreendimento científico possa ser
consistente e significativo, e sem eles a tarefa científica estaria malograda de antemão.
Putnam diz que esses conceitos são valores epistêmicos.
De acordo com essa afirmação, pretendemos nos aproximar da verdade do
mundo fazendo uso das teorias que escolhemos, e essas teorias possuem os valores, já
listados, de “coerência”, “preditibilidade”, por exemplo. O que Putnam alega é que
esses valores são componentes através dos quais nós conseguimos obter nossas
descrições do mundo. Podemos compreender essa alegação da seguinte maneira: nossas
descrições do mundo estão comprometidas com os valores, donde concluiremos, por um
lado, que sem os valores não conseguiríamos formular uma visão de mundo, de modo
que precisamos deles para ser exitosos (mesmo) em nossas pretensões cognitivas mais
sofisticadas, como é o caso das teorias científicas (PUTNAM, 2008a, p.52); e, por outro
lado, concluiremos que uma justificação externa desses mesmos valores está fora da
alçada de confirmação pela via tradicional, segundo a qual deveríamos poder verificar
sua objetividade por meio de uma correspondência com uma descrição correta da
realidade.
Essa última afirmação acerca da descrição correta da realidade nos remete à
posição do realismo20 tradicional, assim denominada por Putnam, para o qual deve
haver uma correspondência entre a realidade e as nossas tentativas de representar essa
realidade tal como ela é. Desse modo, Putnam nos diz que:
...se o realismo metafísico (tradicional) estiver certo, e se se pudesse ver o
objetivo da ciência simplesmente como tentar conseguir que o nosso mundo
nocional “correspondesse” ao mundo em si, então podia alegar-se que
estamos interessados na coerência, abrangência, simplicidade funcional e
eficácia instrumental apenas porque estas são instrumentos com o fim de
realiza esta “correspondência”. Mas a noção de correspondência
transcendental e o mundo é em si um contrassenso. (PUTNAM, 1992, p.
174).
20
Segundo Simon Blackburn, “Um realista sobre um assunto A pode sustentar (I) que os tipos de
coisas descritas por A existem; (II) que sua existência é independentes de nós, ou que não são objetos
produzidos pela nossas mente, linguagem ou esquema conceitual; (III) que as afirmação que fazemos em
A não são redutíveis a outros tipos de afirmações eu possam afinal revelar ser acerca de outra coisa que
não A; (IV) que as afirmações que fazemos em A têm condições de verdade, constituindo descrições
inequívocas de aspectos do mundo, sendo verdadeiras ou falsas em função dos fatos do mundo; (V) que
conseguimos obter verdades acerca de A, e que é apropriado acreditar completamente no que afirmamos
em A”. (BLACKBURN, 1997, p. 335)
Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 49 a 76]