Revista Redescrições | Page 56

56 enunciados relativos à química e enunciados que não são relativos à química, por exemplo (2008a, p.35). A importância da distinção estaria posta pela obviedade de que fato e valor não são sinônimos, e por isso mantêm peculiaridades e acepções específicas com respeito ao seu significado. Porém, ao traçar a distinção, não há nenhuma necessidade de uma decorrência metafísica ocasionada pelo que temos chamado de “dicotomia”. Afinal, distinguir a cor “azul” da cor “amarelo” não é o mesmo que afirmar que elas são dicotômicas, por exemplo. Na próxima seção, passaremos à análise da noção de fato que os positivistas lógicos adotaram, para lançarmos uma crítica com respeito aos pressupostos nos quais ele mesmo se ampara e fundamenta. Feito isso, poderemos começar a apresentação do argumento que irá culminar no colapso da dicotomia entre fato e valor. 1. 1 A Critica de Putnam à Noção de Fato do Positivismo Lógico Pelo que vimos até aqui, podemos afirmar que a dicotomia entre fato e valor repousa sobre a noção de fato. Putnam nos explica que “a noção humeana de um ‘fato’ é simplesmente aquilo do qual pode existir uma ‘impressão’ sensível” (2008a, p. 38). Como já foi aventado acima, essa noção de fato é constitutiva da consolidação da dicotomia entre fato e valor e, dito de outro modo, isso pode ser asseverado por não possuirmos, no nosso aparato sensório, um sentido que con ͥ