Revista Redescrições | Page 138

138 início deste século. (Até 1946, eugenia era não só um termo aceitável como também um nobre e amplamente reconhecido projeto científico.) À luz dessa possibilidade, não se podia esperar outra coisa que não a reação pública veemente como se deu na Alemanha. Entretanto, parece não ter havido clamor público no uso do termo por Meg Greenberg na The New York Times – e isso apesar do fato de que a História dos Estados Unidos não é livre de suas próprias instâncias proibitivas de eugenia negativa. Há debates públicos ao redor da nova genética nos Estados Unidos também, mas eles diferem do recente debate alemão de vários modos. Primeiro, eles raramente são tão eruditos e não podem ser dirigidos a uma audiência tão integrada. A discussão pública se bifurca nas discussões sem compromisso e frequentemente conciliatórias dos prós e contras dos eruditos, levadas adiante em letras miúdas por revistas esotéricas profissionais e pela imprensa de massas, em que manchetes prometendo milagres genéticos futuros alternam com manchetes assustadoras igualmente não realistas de quimeras e ciborgues iminentes. Professores de Filosofia raramente merecem artigos de opinião em jornais americanos. Segundo, nossos debates parecem estranhamente a-históricos por comparação. Às vezes aparece no debate público dos Estados Unidos um esquecimento igual tanto do passado quanto do futuro. Ignoramos nosso passado assustador, que poderia sugerir cautela para diminuir nosso entusiasmo de seguir a ciência onde quer que ela possa nos levar. Imaginamos somente o mais brilhante dos futuros possíveis, e se há algo bom a ser encontrado lá, nós o desejamos agora, custe o que custar em possíveis desvios ou em possíveis efeitos colaterais. Pelo fato de que capital americano público e privado esta financiando muito da pesquisa biogenética contemporânea, essas fragilidades são de considerável importância prática7. V. Bioética e a política da moralidade Um lado interessante do debate (explicitamente rotulado de “batalha do filósofo”) foi a distinção feita na imprensa pública entre filósofos e bioéticos, e a 7 Isso tem mudado, em certa medida, nos últimos anos, e nós temos desenvolvido um relativo conjunto de sofisticados jornalistas de ciência nos jornais dos EUA. Não apenas o NYTimes ou o Washington Post, como também os jornalistas do San Jose Mercury News estão garimpando a Nature e o New England Journal of Medicine para estórias de capa. Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 131 a 140]