131
Pelo amor do jogo:
Peter Sloterdijk e o debate público em Bioética1
Mary V. Rorty*
Tradução de Vitor Ferreira Lima**
I. Introdução
No verão de 1999, um proeminente filósofo alemão proferiu um comentário a
respeito da “Carta sobre o Humanismo” de Heidegger para uma pequena conferência
internacional de Filosofia em Elmau, na Alemanha. A audiência era limitada; o conteúdo
e o tom, elevados; o cenário, remoto – mas havia uma vasta e indignada discussão na
imprensa alemã.
Este artigo discute de modo breve o “Regras para o Menschenpark” de Peter
Sloterdijk, observa algumas diferenças óbvias nas reações nacionais às mesmas
questões bioéticas e levanta algumas outras questões sobre o a função da Bioética – e
dos bioéticos – no debate público.
II. A “Elmauer Rede”
Se o Humanismo é a tradição de “cartas [escritas] para amigos possíveis” que
Sloterdijk afirma, então, como ele igualmente atesta, o Humanismo ou está morrendo ou
já está morto, porque menos e menos pessoas leem ou se importam com o cânone
clássico: os livros que constituíram a fonte principal de educação dos homens do
passado. Ele enxerga na incursão da mídia de massas o fim da instrução educacional
como a conhecemos. Sua analogia é um contraste entre os livros dos filósofos e os jogos
de anfiteatro do passado de um lado e, de outro, esses mesmos livros e a violência dos
videogames de hoje – um tendendo para a “domesticação”; o outro, para a bestialização
e barbarização das gerações futuras. O que está em jogo no Humanismo é a descrição
1 Este paper é um comentário da autora a sua tradução para a língua inglesa da obra de Peter
Sloterdijk, “Rules for the Human Zoo: a response to the Letter on Humanism”, que consta em
Environment and Planning D: Society and Space 27(1), 12-28, 2009. Agradecemos a gentileza da
permissão cedida da autora para esta tradução. (N. T.)
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 131 a 140]