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realmente autoconsciente – isto é, verdadeiramente subjetivo. Mas vamos considerar o
caso em que o sujeito prefere resignação e serventia à morte. O sujeito servil hegeliano
cria um estado – como uma prisão para seu mestre, que é reduzido ao papel de cidadão
sob o controle da lei. O sujeito pós-desconstrutivo resignado contemporâneo constrói a
internet – como uma prisão para o tradicional sujeito mestre do pensar sendo reduzido
ao papel de um usuário da rede e de um “provedor de conteúdo”.
Aqui, o sujeito servo desiste da sua mensagem e passa a servir a mensagem de
outros – ele se torna um servidor. Ele se torna Google, Facebook, Wikipedia e inúmeras
outras agências da internet. Por fazer isso, o sujeito servil resignado captura e coloca
todos os “provedores de conteúdo” – todos os supostos mestres das mensagens deles –
em uma prisão da mídia de rede. Não acidentalmente, os sites individuais no Facebook
todos parecem epitáfios; e toda a rede parece um grande cemitério e, ao mesmo tempo,
um fórum para pós-mortais, pós-desconstrutivas conversas.
O sujeito servil serve ao sinal do fluxo – assim eles podem fluir mais ainda. Mas
ao mesmo tempo isso canaliza o fluxo de informações por controlar não só seu
significado, mas precisamente seu lado material – sua direção, sua quantidade e assim
vai. E esta operação de controle – canalização, direcionamento, entrega – não é
inocente. A mensagem mesma da mídia é, como já foi dito, uma mensagem zero, puro
barulho, caos. O trabalho de ordenação, canalização do sujeito servo operante (e é o
sujeito servo operante, sem a mensagem, que opera nossa mídia – não o poder anônimo
descrito por Foucault – que traz ordem para o caos da mídia. Entretanto, por canalizar a
informação, o sujeito operacional produz sentido – mesmo que o faça indiretamente, na
maneira de auto-ocultamento. Portanto, o sujeito servil nunca pode pôr a si mesmo além
de suspeitas de corrupção, manipulação e tendo uma motivação escondida – isto é, a de
usurpar o lugar do mestre.
O único modo de evitar essa suspeita é remontar à cena original da luta entre a
mensagem subjetiva e o caos da mídia. Isto é o que a arte avant-garde do século vinte
fez, e é o que certo tipo de arte contemporânea ainda faz hoje.
Em seu diário Flight Out of Time, Hugo Ball descreve o “poema simultâneo”
que foi apresentado por Huelsenbeck, Tzara e Janko, em 29 de março de 1916, no
Cabaret Voltaire, no qual a pontuação do recital era constituída de recitativos paralelos
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 125 a 130]