Revista Redescrições | Page 125

125 O que é a filosofia da mídia alemã? Subjetividade como um meio da mídia Boris Groys* Tradução de Paulo Francisco Martins Ghiraldelli** Discursos contemporâneos, digamos “pós-modernos”, sobre mídia, comunicação, informação e assim por diante estão funcionando em nossa sociedade em, pelo menos, duas – se interconectadas – maneiras. Primeiro, eles descrevem cientificamente o funcionamento da mídia contemporânea e seu papel crescente em nossa sociedade. Mas o desenvolvimento da teoria da mídia durante as décadas recentes foi, de uma maneira bem óbvia, motivado não só por puro interesse científico na constituição da era da informação, mas também por um desejo de destruir o papel e posição de "o sujeito" e de se livrar da tradição filosófica que tem o sujeito como ponto principal de referência. Nós ouvimos de Marshall McLuhan que a mensagem de um meio corrói, subverte e transforma toda mensagem individual usando esse meio. Nós ouvimos de Heidegger que die Sprache spricht (a linguagem fala), e não é tanto que um indivíduo esteja usando a linguagem. Essas formulações comprometem a subjetividade do falante, do mandante da mensagem, mas a subjetividade hermenêutica no ouvinte é deixada por eles relativamente intacta. Entretanto, a desconstrução de Derrida e as máquinas de desejo deleuzianas também se livram desse último avatar de subjetividade. Aqui, um indivíduo lendo um texto ou a interpretação de uma imagem se afoga em um mar infinito de interpretações e/ou é levado embora pelo impessoal fluxo de desejos Esses fluxos são entendidos pela teoria da mídia contemporânea como sendo materiais e dirigidos por forças materiais. O sujeito, ao contrário, é tradicionalmente entendido como sendo “espiritual”, imaterial – e, como tal, completamente desprovido de poder em face de um universo material que não é mais percebido como sendo sujeitado a uma ordem “ideal” metafísica. Sem a sobreposta ordem metafísica, o entre jogo das forças materiais apresenta-se como puro caos. O meramente espiritual, imaterial sujeito não tem mais o poder que o habilitaria a tomar controle sobre esse caos Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 125 a 130]