Revista Redescrições | Page 124

124 instalados entre as próprias quatro paredes de nossa casa? É então nos dado tudo o que existe nesta forma de uma casa (hausartig)? Como um ser pronto para nela habitar, onde nós apenas precisamos nos estabelecer e pagar nossas prestações? Quem é artista, irá sempre negar este tipo de pergunta. Para ele é desde sempre presente o embaraço de morar em uma não-casa (Nicht-Haus). Os artistas são os ecologistas do sinistro, do assustador, os incrédulos da casa (Hauszweifler), os que residem de outro modo (Anderswohnenden). Sua habitação sob as coisas significa colaboração com as formas que aparecem, sejam elas derivadas da natureza, da cultura ou do cosmos dos símbolos e modelos científicos. A casa dos que residem de outro modo (Anderswohnenden) é cheia de hóspedes desconhecidos. Ela é um ponto no gradeamento das coordenadas geográficas do globo (Weltgitter), um número mágico, um miradouro sobre cores cruas. O próprio dono da casa move-se em seu reino como no laboratório de um inventor maluco. Caso os hóspedes estejam prontos em tomar parte na rica conversação, que reina entre suas criações, então eles poderão se estabelecer em obras (in Werken). O que o artista oferece a eles em seu estúdio é nada menos do que a admissão no paraíso, no qual flui até hoje o mais antigo fluído da felicidade: a atenção. * Peter Sloterdijk é filósofo, considerado um dos maiores renovadores da Filosofia atual. ** Pedro Proscurcin Junior é pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA). Doutor em Filosofia pela Universidade de Bonn. E-mail: [email protected]. Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 115 a 124]