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neste artigo, já que permite uma clara caracterização das diferentes estratégias políticas
discutidas por Sloterdijk.
Com a hiperpolítica, a espumosa realidade é abarcada. Os conceitos holísticos
representados em metáforas animalescas, corporais e arquiteturais de corpos políticos
são abandonadas e a configuração poliesférica, multisituacional e associacional das
espumas é aceita. De acordo com a hiperpolítica, é senso comum que não há perspectiva
do olho de deus; cada um é confinado em sua bolha, com acesso limitado ao resto da
espuma (2004, p. 293). O confinamento não é percebido como um encantamento, já que
é a bolha que assegura a sobrevivência a curto prazo de seus habitantes. Entretanto, a
hiperpolítica acentua a percepção dos habitantes de que suas perspectivas precisam ser
expandidas para além de suas microesferas. Já que o acesso direto ao exterior é
limitado, a hiperpolítica induz a um processo de aprendizagem que permite processar
observações de segunda ordem de acentos eróticos e thymóticos que vibram dentro da
espuma (2005a, p. 223). O resultado desse processo de aprendizado é uma racionalidade
que objetiva balancear os polos opostos de eros e thymos, um código de conduta para
uma realidade que continua a ser multimegalomaníaca e interparanóica, entretanto em
níveis não destrutivos. Como não há hierarquias, o controle sobre forças psicodinâmicas
não pode ser centralizado. É de responsabilidade de todas as bolhas contribuir para o
equilíbrio geral. A hiperpolítica tem a ver com equilíbrio, assumir o comando de
conflitos relevantes e evitar confrontos excessivos. Além disso, significa confrontar
processos entrópicos, principalmente a destruição do meio ecológico (2005b, p. 355).
Embora Sloterdijk descarte um tipo de universalismo holístico, ele é a favor da
universalização enquanto uma reflexão semântica da expansão do mundo em processo
de globalização. Universalização não é um objetivo em si mesmo, antes é um processo
de maturação e de civilização (2004, p. 308; 2005a, p. 414; 2005b, p.355). É nesse
contexto que Sloterdijk advoga uma segunda ecumenia. Por ecumenia, ele se refere ao
conceito grego de oikuméne, cujo significado é de mundo habitado (1999, p. 986; 2004,
p. 265). Durante a primeira ecumenia, a base para o tratamento igual entre seres
humanos não fora suas necessidades iguais. Os filósofos antigos perceberam os
indivíduos ontologicamente unidos por um abrangente mundo secreto (1999, p. 987).
Na segunda ecumenia, o mundo secreto é substituído pelo medo de uma crise global. Do
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]