Revista Redescrições | Page 106

106 neste artigo, já que permite uma clara caracterização das diferentes estratégias políticas discutidas por Sloterdijk. Com a hiperpolítica, a espumosa realidade é abarcada. Os conceitos holísticos representados em metáforas animalescas, corporais e arquiteturais de corpos políticos são abandonadas e a configuração poliesférica, multisituacional e associacional das espumas é aceita. De acordo com a hiperpolítica, é senso comum que não há perspectiva do olho de deus; cada um é confinado em sua bolha, com acesso limitado ao resto da espuma (2004, p. 293). O confinamento não é percebido como um encantamento, já que é a bolha que assegura a sobrevivência a curto prazo de seus habitantes. Entretanto, a hiperpolítica acentua a percepção dos habitantes de que suas perspectivas precisam ser expandidas para além de suas microesferas. Já que o acesso direto ao exterior é limitado, a hiperpolítica induz a um processo de aprendizagem que permite processar observações de segunda ordem de acentos eróticos e thymóticos que vibram dentro da espuma (2005a, p. 223). O resultado desse processo de aprendizado é uma racionalidade que objetiva balancear os polos opostos de eros e thymos, um código de conduta para uma realidade que continua a ser multimegalomaníaca e interparanóica, entretanto em níveis não destrutivos. Como não há hierarquias, o controle sobre forças psicodinâmicas não pode ser centralizado. É de responsabilidade de todas as bolhas contribuir para o equilíbrio geral. A hiperpolítica tem a ver com equilíbrio, assumir o comando de conflitos relevantes e evitar confrontos excessivos. Além disso, significa confrontar processos entrópicos, principalmente a destruição do meio ecológico (2005b, p. 355). Embora Sloterdijk descarte um tipo de universalismo holístico, ele é a favor da universalização enquanto uma reflexão semântica da expansão do mundo em processo de globalização. Universalização não é um objetivo em si mesmo, antes é um processo de maturação e de civilização (2004, p. 308; 2005a, p. 414; 2005b, p.355). É nesse contexto que Sloterdijk advoga uma segunda ecumenia. Por ecumenia, ele se refere ao conceito grego de oikuméne, cujo significado é de mundo habitado (1999, p. 986; 2004, p. 265). Durante a primeira ecumenia, a base para o tratamento igual entre seres humanos não fora suas necessidades iguais. Os filósofos antigos perceberam os indivíduos ontologicamente unidos por um abrangente mundo secreto (1999, p. 987). Na segunda ecumenia, o mundo secreto é substituído pelo medo de uma crise global. Do Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]