Revista Redescrições | Page 105

105 central. Sloterdijk discute duas formas fundamentalmente diferentes de governo para esferas plurais: política de mercado mundial versus hiperpolítica. Do seu ponto de vista, é a última que é capaz de fornecer imunização sustentável para a humanidade. Com a política de mercado mundial, as esferas plurais são reduzidas a uma ideal supertigela, na qual indivíduos se encontram e realizam suas transações em termos iguais. Os atores do mercado mundial tentam transformar todas as necessidades humanas em produtos comerciais para substituir o conforto acolhedor da esfera de casais, famílias e outros grupos menores. O pensamento do mercado mundial é um esforço de regresso à macroesfera totalizante, típica da política clássica. Entretanto, Sloterdijk argumenta que tal retorno está fadado ao malogro. Uma supertigela, consistindo apenas de superfície, não é capaz de produzir intimidade, o escudo esférico de nove dimensões que os humanos precisam para sobreviver. Além disso, é inconcebível como e por que as ricas complexidades, acumuladas em espumas através dos tempos possam ou devam ser reduzidas em uma supermonoesfera (2005a, p. 231). A estrutura erótica do mercado mundial é definida pelo esforço individual de dominar todos os outros para ganhar vantagens competitivas e dispor de ainda mais recursos de opressão. A mesma configuração egoística é refletida nas práticas thymóticas no mercado mundial: o mercado mundial em si não é capaz de fornecer referências thymóticas, já que é projetado apenas para o trânsito e para transações. Os indivíduos socialmente atomizados procuram sentimentos de superioridade ao negar ou rebaixar seus companheiros. Não é preciso dizer que tal configuração não é capaz de produzir os recursos imunológicos necessários para sustentar as necessidades de longo prazo da humanidade. As considerações de Sloterdijk sobre a hiperpolítica não são sistematizadas. Ao introduzir esse conceito, ele define hiperpolítica em termos bastantes vagos, insistindo que a política clássica não é mas adequada. Em tempo, ele já está preocupado com o número crescente de “últimos homens” – a figura nietzschiana para um indivíduo sem descendência biológica (1993, p. 76) – e insiste na importância da sustentabilidade (1993, p. 79). Em seus últimos escritos, ele continua a trabalhar com as questões de hiperpolítica, entretanto sem utilizar esse termo explicitamente. O termo é mantido Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]