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quantidade, porém, como até a sobrevivência de curto prazo depende de esforços
conjuntos, um comando diferenciado de propriedade faz pouco sentido e, portanto,
emerge neste estágio somente na medida em que é preciso definir relações sociais
básicas entre os membros de uma esfera, incluindo determinados direitos e
responsabilidades. Por essa razão, as forças eróticas produzem um clima de
compartilhamento, mesclando e unindo membros de um modo aparentemente natural.
Embora tenha que ser assumido que certo tipo de auto-consciência emerja já no estágio
das microesferas, fenômenos thymóticos são ainda muito limitados. Isso pode ser
deduzido do fato de que a interação entre diferentes bolhas humanas é muito rara. O
coletivo paleopolítico não experimenta a si mesmo no contexto de outros coletivos; o
outro é a natureza.
Política clássica
Com o passar do tempo e graças ao progresso tecnológico, comunidades
expandiram para escalas maiores: de tribos formais até reinados, impérios e estadosnações. É o período da política clássica. Para refletir o tamanho maior das esferas
humanas, Sloterdijk fala agora de globos enquanto contêineres holísticos. As políticas
de eros e thymos se tornam mais complexas e mais explícitas. É o período de
emergência da noção clássica de política.
A dimensão erótica da política clássica está concentrada na dominação e
acumulação (1993, p. 26). A criação de comunidades maiores não ocorre naturalmente,
é o resultado de estruturas de poder socialmente produzidas que vão muito além da
natureza das hierarquias de famílias, clãs e hordas. Inicialmente, essas estruturas de
poder aparecem na forma de pura violência física. Porque a onipresença do poder físico
é dispendiosa, os agentes de violência são, cada vez mais, aquartelados e substituídos
por representantes não violentos de poder. Esses representantes não violentos mostram
poder de maneira simbólica. Métodos pedagógicos que emergem no decorrer da política
clássica treinam tanto os representantes quanto os indivíduos das macroesferas a
entender e lidar com o poder simbólico (1993, p. 32).
Isso leva à questão de como as forças thymóticas funcionam na política clássica.
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]