Revista Redescrições | Page 100

100 imunização para seus membros. A imunização providencia mecanismos de autodefesa. Ela se origina como um conceito dos campos biológico e médico. Sloterdijk argumenta que as esferas humanas não são somente para favorecer a imunização biológica de seus membros, mas também são projetadas para produzir sócio-imunizações e psicoimunizações. Todas as três imunizações estão funcionalmente interconectadas entre si. Sloterdijk resume instituições jurídicas, solitárias e militares sob o conceito de práticas sócio-imunizadas; elas tem como objetivo prevenir confrontos danosos com o outro. Somados a esse confronto “real”, indivíduos e coletivos também enfrentam ameaças “virtuais” aos seus estados mentais e psicológicos, como questões existenciais, o destino desconhecido e a mortalidade fundamental. Práticas psico-imunológicas como a religião e outros rituais místicos permitem lidar com essa ameaça através de modos simbólicos (2009, pgs. 23 e 709). A preservação de uma esfera depende, portanto, da habilidade de seus membros de constantemente controlar o clima dentro dela, de modo a assegurar suas bio-, sócio- e psico-imunizações. Através do tempo, as esferas humanas evoluíram das formas mais simples até as mais complexas. Sloterdijk divide esse processo histórico em três estágios: o estágio de microesferas (bolhas), o estágio de macroesferas (globos) e, finalmente, o estágio de esferas plurais (espumas) (1993; 1998; 1999; 2004). Suas correspondentes entidades políticas, políticas e polícias de eros e thymos são resumidas na tabela abaixo: Estágio esférico Entidades políticas Política Microesferas (bolhas) Clãs, hordas Paleopolítica Macroesferas (globos) Política clássica Tribos formais, reinos, impérios, estados-nações Polícia de eros e thymos Eros: compartilhar com o outro Thymos: predominantemente ausente Eros: dominação do outro Thymos: no nível individual, o thymos é reprimido; no nível coletivo, o sentimento de agressividade é dominante Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]