Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2017 | Page 5

O que andamos a ler

Prof . Doutor Ovídio Costa
Cardiologista . Faculdade de Medicina do Porto
Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de artigos recentes ou que merecem ser ( re ) lidos e comentados . Será uma página aberta a todos os colegas que pretendam colaborar descrevendo ou comentando temas de medicina desportiva .

Cardiac Auscultation in Sports Medicine : Strategies to Improve Clinical Care 1

Lembrei-me de sugerir a leitura deste artigo do Prof . Michael Barrett quando , há dias lia um comentário quase provocatório a um outro estudo mais recente deste mesmo autor . O comentário intitulava-se “ Most cardiologists flunk auscultation skills test ” 2 e referenciava um estudo recentemente apresentado no American College of Cardiology . 3 Neste estudo participaram 1.098 cardiologistas que se submeterem à avaliação das suas capacidades auscultatórias no decurso das American College of Cardiology Annual Scientific Sessions , realizadas de 2011 a 2014 . Os participantes concordaram testar um conjunto de sopros básicos e outro de sopros avançados . Os sopros básicos incluíam estenose aórtica , regurgitação aórtica , estenose mitral e regurgitação mitral e os sopros avançados válvula aórtica bicúspide , prolapso da válvula mitral , estenose e regurgitação aórtica combinadas e estenose e regurgitação mitral combinadas . Após o pré-teste , todos os participantes ouviram 400 repetições destes sons enquanto visualizavam imagens cardíacas que incluíam os respetivos fonocardiogramas . O tempo de treino foi de 90 minutos para cada conjunto de sopros . Imediatamente após o treino , realizou- -se um pós-teste com os mesmos
sopros em ordem aleatória . Nos sopros básicos , 980 cardiologistas obtiveram 48 % de sucesso no pré-teste . As pontuações no pós- -teste ( após treino ) aumentaram a taxa de sucesso para 88 %. Nos sopros avançados , obtiveram 66 % e melhorando para 93 % no pós- -teste . “ Estes resultados confirmam a visão amplamente difundida de que as habilidades de auscultação entre cardiologistas se corroeram ao longo do tempo ”, concluiria então o Prof . Patrick T . O ’ Gara , ex- -presidente do American College of Cardiology e co-investigador do estudo .
No artigo cuja leitura recomendo descrevem-se , pormenorizadamente , os motivos que justificam o interesse atual da utilização desta técnica de diagnóstico na avaliação médico-desportiva de atletas e no rastreio das doenças que mais frequentemente originaram morte súbita durante a prática desportiva . De facto , podem ser muito relevantes os achados da auscultação cardíaca nesta população . Tal como acontece com a interpretação do eletrocardiograma de repouso em atletas ( critérios de Seattle ), é fundamental a aprendizagem , pela repetição , dos padrões anormais ( sons cardíacos anormais ) e a sua diferenciação dos padrões normais ( sopros inocentes ), bem como o reconhecimento dos achados que permitem a suspeita fundamentada de algumas das patologias cardíacas mais frequentes nesta população . É o caso da suspeita de válvula bicuspidia aórtica ( clique de ejeção com ou sem sopro de estenose aórtica ), comunicação interauricular ( desdobramento fixo do 2 º som ), comunicação interventricular ( sopro sistólico patológico ), prolapso da válvula mitral e miocardiopatia hipertrófica ( auscultação dinâmica ), insuficiência aórtica ligeira ( sopro diastólico suave e aspirativo ), entre outras .
Sem esta aprendizagem , a auscultação cardíaca , tal como o eletrocardiograma de repouso , perde toda a utilidade diagnóstica , podem até constituírem-se fonte de ruído no processo de decisão clinica da aptidão médico-desportiva .
Veja isto no youtube também : https :// www . youtube . com / watch ? v =_ nybhJ1XdhE
Quadro 1 . Auscultação cardíaca dinâmica .
Efeitos na miocardiopatia
Intervenção
Intensidade do Sopro
Manobra de Valsalva
Aumento
Posição ortostática
Aumento
Pós-extrassístole
Aumento
Posição de cócoras
Redução
Manobra handgrip
Redução
Revista de Medicina Desportiva informa Março 2017 · 3