Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2017 | Page 32

Fig . 3 – Fixação do aloenxerto de menisco externo com técnica all-inside
Fig . 4 – Aloenxerto de menisco externo com barra óssea
Fig . 5 – Aloenxerto de menisco externo com raízes livres
O primeiro transplante de menisco foi realizado em 1984 . 9 Nos últimos 30 anos o procedimento evoluiu da cirurgia aberta para o método artroscópico , na forma de conservação do enxerto , na técnica de fixação periférica e tibial e nos protocolos de reabilitação . Vários trabalhos têm sido apresentados com resultados clínicos muito satisfatórios a longo prazo , pelo que atualmente , o transplante meniscal não deve ser visto como experimental . 10
Métodos
Neste trabalho analisámos retrospetivamente os nossos doentes submetidos a transplante de menisco , com tempo mínimo de seguimento de seis meses . Avaliámos clinicamente e utilizámos medidas de funcionalidade ( KOOS ), dor ( VAS ), qualidade de vida ( SF-12 ) e satisfação do doente . As nossas indicações para o transplante de menisco são doentes jovens (< 50 anos ), com dor após meniscectomia , localizada ao compartimento intervencionado , depois de falhado o tratamento conservador e verificadas as alterações nos exames complementares , compatíveis com o diagnóstico de síndrome pós-meniscectomia . Solicitamos sempre a avaliação radiológica bilateral em carga , o extralongo dos membros inferiores e a ressonância magnética do joelho afetado . As dimensões do enxerto meniscal são determinadas pelo método de Pollard . 11 A cirurgia é realizada por artroscopia , com garrote e apoio de coxa . O inicio da cirurgia consiste na avaliação de toda a articulação e na preparação do leito meniscal
com desbridamento do tecido ainda existente , mantendo sempre que possível 1 a 2mm de muro meniscal . No caso de instabilidade ligamentar , desvios de eixo ou lesões condrais , são realizados primeiro os procedimentos associados ( ligamentoplastia , osteotomia , microfraturas , etc .) e depois o transplante de menisco . Utilizamos aloenxerto de menisco criopreservado ( -196 ° C ), fornecido pelo Centro de Histocompatibilidade de Lisboa . A fixação periférica do menisco é feita com recurso a técnicas all-inside ( Fig . 3 ) e outside-in em função da localização dos pontos de sutura . A fixação tibial varia em função da preferência de cada cirurgião : barra óssea ( Fig . 4 ) ou raízes meniscais ( Fig . 5 ). No pós-operatório os doentes mantêm uma proteção com tala amovível , não podem fazer carga até às 4 ou 6 semanas e estão limitados na amplitude articular , entre os 0-90 °, até às 6 semanas .
Resultados
Entre 2009 e 2017 realizámos oito transplantes de menisco em cinco homens e três mulheres , com idades entre os 24 e os 47 anos . Por serem casos recentes , excluímos deste trabalho dois casos . Analisámos seis casos , quatro homens e duas mulheres , com um tempo de seguimento médio de três anos ( 6 a 81 meses ). Todos os casos apresentavam sintomas de síndrome pós-meniscectomia , um com rotura do ligamento cruzado anterior e um com desvio do eixo associados . Nestes dois casos , realizou-se no mesmo tempo cirúrgico a ligamentoplastia e a osteotomia de correção , respetivamente .
Dos cinco meniscos transplantados , quatro foram meniscos externos e um menisco interno . Quando avaliámos as lesões de cartilagem presentes no momento da cirurgia , dois não apresentavam lesões , um mostrava lesão grau 2 , dois com lesão grau 3 e um outro com lesão grau 4 de Outerbridge . 12 Em termos clínicos , todos apresentaram amplitude articular de 0 a 130 °, exceto um , com flexão limitada aos 120 °. Dos cinco , apenas um referia dor nos testes meniscais e dois apresentavam dor femoropatelar ligeira . Em dois dos casos , foi necessário realizar mobilização sob anestesia e artrolise artroscópica , um aos três e outro aos cinco meses , por rigidez articular . O valor do KOOS foi superior a 75 em quatro casos , com o máximo de 91,9 e o mínimo de 32 . Dois deles retomaram mesmo a prática desportiva moderada . O valor médio do SF-12 foi de 43,7 ( 33,2 a 46,9 ) para o componente mental ( MCS ) e 52,1 ( 34,6 a 59,1 ) para o componente físico ( PCS ). O nível de intensidade máximo de dor que sentia , medidos entre 10 ( dor insuportável ) e 0 ( sem dor ), foi 0 em três casos , 1 em dois e 4 no pior caso . À questão sobre a satisfação com o resultado da cirurgia , três responderam estar muito satisfeitos , dois satisfeitos e um pouco satisfeito .
Discussão
Os dados mais importantes da nossa análise retrospetiva são os níveis de função e satisfação dos doentes com a cirurgia . Quatro doentes ( 66,6 %) com KOOS > 75 e cinco doentes ( 83,3 %) satisfeitos ou muito satisfeitos , com SF-12 global dentro
30 Março 2017 www . revdesportiva . pt