Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2017 | Page 9

veio relançar o debate em torno das doses de proteína a usar num contexto de suplementação desportiva . Os autores deste estudo observaram maior síntese de proteína muscular ( SPM ) em atletas treinados , após a realização de exercícios de força resistente envolvendo vários grupos musculares , seguida da ingestão de 40gr de proteína isolada de soro de leite ( WPI ) quando comparada com a ingestão de apenas 20gr .
Estudos anteriores mostravam um aumento muito ligeiro na SPM quando se aumentava a dose de 20gr para 40gr , pelo que a maioria das recomendações aponta para uma ingestão entre 20-25gr de WPI após a realização de exercícios de força resistente . Na comparação com os trabalhos existentes , o protocolo deste estudo implicou a realização de exercícios envolvendo grupos musculares de todo o corpo , ao contrário dos trabalhos anteriores onde apenas eram exercitados os membros inferiores . Os autores destacam que apesar da quantidade total de músculo de cada indivíduo não parecer influenciar a resposta na SPM , a quantidade de músculo exercitada parece influenciar as necessidades de WPI .
Poderá este trabalho por em causa as recomendações atuais ? E em que contextos pode haver vantagem no aumento da ingestão de WPI após o esforço ? Embora seja a primeira vez que se observa uma diferença significativa na SPM após um aumento da dose de WPI ingerida (~ 20 % contra ~ 10 % nos estudos anteriores ), os autores teorizam que , provavelmente , quantos mais músculos são exercitados durante o esforço , maior o impacto de uma ingesta aumentada de aminoácidos implicados na SPM . Mais , perante os resultados obtidos , os autores sugerem mesmo que após a realização de exercícios de força resistente envolvendo todos os grupos musculares , a ingestão de apenas 20gr de WPI poderá não ser suficiente para estimular a máxima SPM . Por outro lado , a noção muitas vezes existente de que quanto maior a massa muscular do indivíduo , maior a necessidade de ingerir aminoácidos , não parece corroborada pelos resultados observados . Todos estes dados sugerem que vários fatores para além da quantidade total de proteína ingerida podem influenciar a resposta metabólica do músculo após o esforço .
Em resumo , este estudo vem chamar a atenção para vários aspetos respeitantes ao uso de suplementação com proteína . Em primeiro lugar , é importante recordar que a dose de proteína é apenas um dos fatores que influencia a SPM . Há pelo menos três outros fatores a considerar :
• O intervalo entre o fim do exercício e a ingestão de proteína parece ser mais vantajoso para o atleta se for inferior a uma hora , apesar da chamada janela de oportunidade anabólica ( período de tempo em que a SPM está aumentada por estimulação do exercício ) ser mais prolongada e menos relevante do que inicialmente proposto 1 , 2
• O perfil de aminoácidos da proteína utilizada na suplementação , que deve conter cerca de 9gr de aminoácidos essenciais ou 5gr de aminoácidos de cadeia ramificada ( 2,5gr de leucina , 1,25gr de isoleucina e 1,25gr de valina ) 3
• A frequência da ingesta de proteína ao longo do dia , parecendo mais eficaz uma distribuição a cada 3-4 horas 4 , 5 . Mas talvez o aspeto mais importante deste estudo seja o de relacionar o número de grupos musculares envolvidos no exercício , e não a massa muscular do indivíduo , com as necessidades proteicas . Apesar de ser necessária mais investigação sobre o assunto , poderá haver vantagem na ingestão de quantidades maiores de proteína ( 40g de WPI ) nas modalidades de força resistente que envolvem todos os grupos musculares , sobretudo se o objetivo for o aumento da massa muscular .
Bibliografia
1 . Schoenfeld , B . J ., Aragon , A . A ., Krieger , J . W . The effect of protein timing on muscle strength and hypertrophy : a meta-analysis , Journal of the International Society of Sports . Nutrition . 2013:10:53 .
2 . Churchward-Venne , T . A ., Burd , N . A . & Phillips , S . M . Nutritional regulation of muscle protein synthesis with resistance exercise : strategies to enhance anabolism . Nutrition and Metabolism ( Lond ), 2012:9,40 .
3 . Witard , O . C . et al . Myofibrillar muscle protein synthesis rates subsequent to a meal in response to increasing doses of whey protein at rest and after resistance exercise . American Journal of Clinical Nutrition . 2014:99,86-95 .
4 . Areta , J . L . et al . Timing and distribution of protein ingestion during prolonged recovery from resistance exercise alters myofibrillar protein synthesis . Journal of Physiology . 2013:591 , 2319-31 .
5 . Mamerow , M . M . et al . Dietary Protein Distribution Positively Influences 24-h Muscle Protein Synthesis in Healthy Adults . Journal of Nutrition . 2014:144,876-880 .
Dr . Filipe Teixeira Licenciado em Ciências da Nutrição e em Bioquímica e Mestre em Ciência Aplicada . Doutorando em Fisiologia do Exercício . Diretor técnico da Body Temple , Lda e Proviant Labs Lda . Lisboa .
O efeito da proteína no aumento da síntese proteica muscular ( MPS ) é bem documentado , sobretudo quando associado ao treino da força 1 , 2 . Apesar do tipo de proteína e do seu timing de ingestão serem importantes , a quantidade de proteína após o exercício parece de importância primordial 3 . A evidência científica parece suportar o facto de 20-25gr de proteína serem suficientes no estímulo máximo da MPS em
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