Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2017 | Page 13

Osteoporose – Prevenção em Idade Pediátrica

Dra . Carolina Baptista 1 , Dra . Rita Lacerda Vidal 2 , Dra . Ana Luísa Leite 3
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Serviço de Pediatria , Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho ; 2 . Serviço de Pediatria , Centro Hospitalar Baixo Vouga ;
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Unidade de Endocrinologia e Diabetologia Pediátrica , Serviço de Pediatria , Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia .
A Osteoporose , doença caraterizada pelo aumento da fragilidade óssea , é considerada pela Organização Mundial de Saúde uma causa major de morbilidade e de gasto económico por todo o mundo . Embora tipicamente associada ao envelhecimento , a osteoporose tem a sua origem na infância e pode afetar crianças e adolescentes . De facto , a massa óssea ( MO ) atingida precocemente na vida parece ser o determinante modificável mais importante para a saúde do esqueleto 1 . Assim , a prevenção da doença deve iniciar-se nas consultas de saúde infantil e juvenil .
O osso é uma estrutura metabolicamente ativa que engloba células e uma matriz óssea constituída por colagénio , cristais de hidroxiapatite e proteínas . Esta matriz é posteriormente mineralizada com depósitos de cálcio e fosfato , que lhe conferem uma estrutura forte e sólida . Este processo inicia-se in utero e , posteriormente , a composição mineral óssea vai aumentar cerca de 40 vezes do nascimento à idade adulta , sendo o pico de MO atingido na segunda década de vida , cerca de 6 a 12 meses após o pico na velocidade de crescimento 2 – 4 . Após a terceira década de vida ocorre um declínio lento mas progressivo da massa óssea 5 . Mesmo após a paragem do crescimento linear , o osso mantem- -se constantemente sob remodelação , sendo fundamentais a regulação por citocinas locais , a paratormona ( PTH ), a 1,25-hidroxivitamina D ( 1,25-D2-D ), a IGF-1 e a calcitonina .
A MO é determinada por diferentes fatores , dos quais alguns são passíveis de modificação e , portanto , fulcrais para a prevenção da osteoporose ( Tabela 1 ) 6 .
Fundamentos para a prevenção primária da saúde óssea / ação sobre os fatores modificáveis
Nutrição
Tabela 1 . Fatores que afetam a massa óssea
Modificáveis
Nutrição Cálcio Vitamina D Sódio Refrigerantes Exercício e estilo de vida Agentes terapêuticos Glicocorticoides sistémicos Metotrexato Ciclosporina Heparina Antiepiléticos ( fenobarbital , fenitoína , carbamazepina ) Radioterapia Peso e composição corporal Estado hormonal
Cálcio O cálcio é absorvido por transporte ativo e passivo via intestinal , sob regulação pela vitamina D e 99 % do cálcio corporal encontra-se no osso 6 . Para a formação do osso saudável é determinante que se atinjam os requerimentos diários necessários deste ião . A principal fonte alimentar de cálcio são os produtos lácteos , sendo que um copo de 240mL de leite fornece cerca de 300mg de cálcio ( semelhante no leite magro e no leite gordo ). Outras fontes possíveis são os legumes de folha verde , frutos secos , fruta e cereais fortificados . Na primeira infância os requerimentos de cálcio ( 800 mg / dia ) são facilmente atingíveis , mas na adolescência os 1300 mg / dia necessários tornam-se mais difíceis de conseguir , muito à custa do conceito de que os laticínios engordam , da preferência por bebidas de soja ou de sumos /
Não-modificáveis
Genética Sexo Raça Osteoporose primária Osteogenese imperfeita Síndrome osteoporose pseudoganglioma Osteoporose juvenil idiopática
Patologias crónicas Auto-inflamatórias Com consequente redução da mobilidade ( por exemplo , paralisia cerebral , distrofias musculares , etc .) Insuficiência renal crónica refrigerantes e da dieta pobre em legumes e fruta 1 , 7 . A recomendação da Academia Americana de Pediatria ( AAP ) centra-se na necessidade de promover hábitos alimentares saudáveis e ricos em laticínios nesta faixa etária , já que os benefícios da suplementação com cálcio não são inequívocos 7 .
Vitamina D A vitamina D , ao contrário do sugerido pela sua designação , é atualmente considerada uma hormona lipossolúvel . Este conceito tem surgido porque recentemente tem- -se atribuído à vitamina D várias outras funções além da regulação da homeostasia mineral . Assim , tem sido envolvida em funções reguladoras fundamentais à saúde cardiovascular , imunológica e prevenção tumoral 8 .
A síntese de vitamina D é realizada maioritariamente pela pele após exposição à radiação UVB na faixa dos 290-315nm e , por isso , está dependente da latitude , da hora do dia e da estação do ano , da pigmentação da pele e da utilização de protetor solar . Os níveis recomendados diários de vitamina D foram em 2011 revistos em alta pelo Institute of Medicine e pela AAP ( Dose diária recomendada < 12M : 400 IU / dia ; 1A-18A : 600 IU / dia ) 7 .
A deficiência de vitamina D em crianças pequenas (< 18M ) resulta em raquitismo e em idades mais velhas , adolescência e idade adulta resulta num risco aumentado de fratura . Vários estudos têm incidido sobre a prevalência crescente de indivíduos em idade pediátrica e adulta com deficiência de vitamina D , sendo fatores de risco conhecidos residir em países nórdicos , pele escura e a exposição inadequada à luz solar mesmo em países solarengos . Os fármacos antiepiléticos , glicocorticoides e antirretrovirais aumentam os requerimentos em vitamina D .
A exposição solar recomendada para promover a síntese de vitamina D refere-se à exposição de braços e pernas por 5-15 minutos ( até provocar um eritema cutâneo mínimo ), 2 a 3 vezes por semana . A síntese máxima ocorre entre as 10 e as 15 horas na primavera , verão e outono 9 .
As fontes alimentares de vitamina D são reduzidas , contudo , o óleo de fígado de bacalhau , os peixes gordos
Revista de Medicina Desportiva informa Janeiro 2017 · 11