Military Review Edição Brasileira Quarto Trimestre 2016 | Page 88

Em 1948 , a Colômbia entrou em um período de guerra civil , do qual nunca emergiu completamente . Desde 1964 , um elemento chave para a violência tem sido as Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia ( Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia , ou FARC ). Embora motivada originalmente pelos altos níveis de desigualdade entre os ricos e os pobres , e guiada estrategicamente pela ideologia marxista-leninista e pela teoria da guerra popular , a luta das FARC se desenvolveu ao longo de várias décadas para enfatizar cada vez mais o tráfico de drogas e a violência contra o povo . Devido a vários erros e oportunidades perdidas pelo governo , o grupo cresceu em força , atingindo seu auge durante os primeiros anos da presidência de Andrés Pastrana ( 1998-2002 ). A partir de então , declinou precipitadamente conforme foi trucidada pelas Forças Armadas colombianas durante um ressurgimento nacional que atingiu o seu apogeu durante o governo inicial do Presidente Álvaro Uribe ( 2002-2006 ), continuando durante o seu segundo governo ( 2006-2010 ).

O Presidente Juan Manuel Santos ( 2010 – 2014 ) inicialmente prometeu continuar as políticas de Uribe , mas em vez disso , surpreendeu a todos com um engajamento em um processo de paz de duração indefinida que atualmente continua em negociação . Santos foi reeleito para um segundo mandato ( 2014-2018 ), porém agora se confronta com uma recusa resoluta das FARC de comprometer-se definitivamente com término do conflito . Isso colocou o crescentemente impopular governo de Santos na posição constrangedora de precisar de um acordo , custe o que custar , porém que tenha legitimidade perante um povo cético sobre as intenções das FARC . O ceticismo é justificado . Embora tenha havido muitas alegações de progressos irreversíveis nas conversas , os avanços nos assuntos importantes permanecem limitados , especialmente na própria desmobilização das FARC como uma organização armada e na sua integração ao processo político não violento . Esse impasse não é surpreendente : depois de anos de declínio , a liderança das FARC parece ter percebido que a sua luta armada não tem probabilidades de êxito . Como parte de sua ênfase revisada nos aspectos políticos da luta , aceitou condicionalmente novas negociações de paz , mas permaneceu determinada a obter a máxima vantagem possível ao explorar a ansiedade do governo em fechar um acordo .
Especificamente , as propostas das FARC refletem três objetivos : uma tentativa desesperada de obter legitimidade perante o povo colombiano e a comunidade internacional ; a concessão do controle político e geográfico de facto ( se não de jure ) sobre várias áreas e populações , particularmente nas importantes regiões rurais no parte sul do país onde tem estado ativa por muito tempo ; e a realização de uma assembleia constituinte convocada com representações setoriais ( preferencialmente com as FARC possuindo assentos reservados ). Ao satisfazer esses objetivos , os chefes das FARC acreditam que terão melhores condições de obter poder político por meio de eleições para que possam mudar a natureza do Estado — a meta sendo transformar a Colômbia em um Estado socialista , assemelhando-se com a República Bolivariana da Venezuela . A liderança das FARC não abandonou as suas metas marxistas / leninistas , apenas disfarçou a sua ideologia com linguagem apropriada para o Século XXI 1 .
Em seu esforço para reformular a sua luta , as FARC alegaram durante todo o diálogo que as desigualdades e a brutalidade do Estado a instigaram a conduzir a sua insurgência . Propõem falar em nome de uma ampla base social e simplesmente negam o quanto elas têm , por décadas , fomentado a violência contra os inocentes como a sua metodologia principal de combate . Não existe crime que não tenha perpetuado : de tortura e assassinato , o lançamento de extensivos campos de minas ( normalmente não demarcados ) por todo o país , sequestro e estupro , e até o tráfico de drogas e extorsão2 . A organização refuta todos esses crimes , insistindo , em vez disso , que os fatos históricos sejam decididos por várias comissões da verdade e por paneis internacionais . Indo contra todas as pesquisas de opinião e expressões públicas de apoio , o Estado está para ser representado como o inimigo do povo .
Devido à longa duração das negociações e às esperanças excessivamente elevadas pela perspectiva da paz , o governo se encontra na posição de gradualmente ser forçado a ceder . O pano de fundo para conversações de paz é tudo menos auspicioso , mas a maioria dos analistas acredita que alguma forma de um acordo será assinada em 2016 — uma previsão que é comemorada reflexivamente devido a sua semelhança com a de Chamberlain de “ paz em nosso tempo ”. O que é necessário é uma maior apreciação da História , particularmente aquela relacionada com as transições da guerra para a paz ,
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