Military Review Edição Brasileira Quarto Trimestre 2016 | Page 26

Responder ou Não Responder Como Enfrentar a Propaganda Inimiga Ten Cel (Res) Jesse McIntyre III, Exército dos EUA O s líderes políticos e militares alemães atribuem, em parte, a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial aos esforços de propaganda dos Aliados e ao fracasso da Alemanha de efetivamente enfrentá-los1. Já na primavera de 1917, a Alemanha estava debilitada pelas atividades de propaganda. De fato, em maio de 1917, autoridades alemães superiores se reuniram para esboçar um plano para combater os efeitos desmoralizantes do esforço de propaganda dos Aliados2. O plano incluía o estabelecimento de uma agência central dentro do Ministério de Relações Exteriores para coletar propaganda e comunicados à imprensa dos Aliados, desenvolver programas para elevar o moral dos militares alemães e cultivar políticas para orientar as atividades de propaganda dirigida ao inimigo3. A decisão alemã de coordenar um esforço de tal alto escalão indica a importância que atribuíram ao enfrentamento de propaganda. Infelizmente para eles, o esforço chegou tarde demais e foi ineficaz em mudar o curso da guerra4. A história está cheia de exemplos das consequências de usar ou não medidas de contrapropaganda. Um dos primeiros registros foi durante a Guerra do Peloponeso. Os propagandistas dos dois lados dessa guerra entre os atenienses e os espartanos (431-404 aC) responderam à propaganda do outro com declarações retaliatórias, sem diretamente negar as alegações ou reconhecer a própria propaganda5. Tucídides observou que as declarações retaliatórias sempre eram mais severas do que a original, concluindo que esse era um requisito para a contrapropaganda 24 eficaz6. Durante a Primeira Guerra Mundial, os italianos conduziram operações de contrapropaganda contra tropas austro-húngaras, alterando os boletins de trincheira deles com mensagens de propaganda7. Contudo, a história mostra, também, que os esforços de contrapropaganda precisam ser executados habilidosamente para assegurar que o tiro não saia pela culatra. Por exemplo, os profissionais de propaganda alemães criaram um interessante folheto de contrapropaganda durante a batalha de Anzio, na Segunda Guerra Mundial8. Quando os Aliados disseminaram um folheto que descrevia os seus sucessos contra as posições alemãs na frente Cassino, os propagandistas alemães tentaram refutar as alegações com declarações que refletiam o oposto do sucesso dos aliados no campo de batalha. No final, os folhetos alemães provaram ser inúteis como uma tentativa de depreciar o folheto aliado entre as tropas americanas, mas tinham o resultado imprevisto de serem tão absurdamente inacreditáveis que aumentaram o moral dos militares dos EUA9. Quando executada por peritos, a contrapropaganda pode ter uma influência poderosa e decisiva sobre um adversário ideológico. Por exemplo, o Presidente Ronald Re agan forneceu, talvez, um dos melhores exemplos de contrapropaganda bem-sucedida que tinha repercussões mundiais, em 1987. Durante os anos 80, a propaganda soviética tinha tido êxito em criar na Europa a percepção de que o então Presidente soviético Mikhail Gorbachev era um líder nos esforços de paz10. Ao proferir uma palestra perto do Muro de Quarto Trimestre 2016  MILITARY REVIEW