Military Review Edição Brasileira Quarto Trimestre 2016 | Page 110
História das Unidades de
Contraterrorismo
Historicamente, o estabelecimento de unidades
e capacidades de C Trr em âmbito nacional sempre
foi motivado pelo terrorismo e por crises. O primeiro ímpeto para o desenvolvimento de capacidades
de C Trr em âmbito nacional na Europa deu-se em
resposta a um ataque conduzido durante os Jogos
Olímpicos de Verão em Munique, na Alemanha, em
1972. Durante os jogos, um grupo palestino chamado Setembro Negro entrou na Vila Olímpica e, em
seguida, sequestrou e matou vários atletas israelenses.
Em meio à confusão e à resposta mal administrada
das forças de segurança pública, a polícia alemã deu
início a uma tentativa de resgate que terminou de
forma trágica, com a morte de nove atletas israelenses
no aeroporto. Nenhum dos policiais alemães havia
recebido treinamento em resgate de reféns, combate
cerrado ou tiro de tocaia. Menos de 60 dias depois,
o governo alemão formou o Grenzschutzgruppe 9 der
Bundespolizei, conhecido por GSG-9, primeira unidade da Alemanha dedicada ao C Trr18.
Logo após o que ficou conhecido como Massacre
de Munique e o estabelecimento do GSG-9, a França
seguiu o exemplo alemão com a criação do Groupe
d’Intervention de la Gendarmerie Nationale, ou GIGN19.
Uma diferença significativa entre as duas organizações
era o status do GSG-9 como parte dos órgãos de segurança pública, ao passo que o GIGN era uma unidade
das Forças Armadas francesas. Essa distinção é importante porque há países da OTAN cujas Forças Armadas
podem não estar autorizadas a exercer funções de
segurança pública, enquanto outros Estados parceiros não permitem que Forças Armadas estrangeiras
operem dentro de suas fronteiras. A distinção legal das
F Op Esp da OTAN na resposta de um Estado membro
com base no Artigo 5 está além do escopo desta discussão, mas é uma questão importante, se a organização
adotar capacidades e responsabilidades de C Trr como
uma missão principal de suas F Op Esp.
Os EUA optaram por desenvolver capacidades de
C Trr tanto nas forças de segurança pública quanto nas
Forças Armadas, mas somente depois de enfrentar sua
própria crise de reféns, o “cerco hanafita”, entre 9 e 11 de
março de 1977. O extremista violento (para utilizar o
linguajar atual), nascido nos Estados Unidos e convertido ao Islã, Hamaas Abdul Khaalis arregimentou
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um grupo de doze atiradores para sitiar três edifícios
em Washington D.C., mantendo 149 reféns durante
39 horas. O grupo de Khaalis tomou um andar do
edifício John A. Wilson, a sede da organização judaica
B’nai B’rith e o Centro Islâmico de Washington D.C.
Os atiradores fizeram várias exigências, como a de que
o governo dos EUA lhes entregasse alguns homens,
que haviam sido condenados pela morte de parentes
de Khaalis, e a de que todas as cópias do filme Maomé,
o Mensageiro de Alah, estrelado por Anthony Quinn,
fossem destruídas, por o considerarem uma afronta ao
Islã20. O cerco de 39 horas terminou sem um grande
número de mortos. Dos 149 reféns, dois morreram de
ferimentos causados por armas de fogo, sofridos durante o ataque inicial, e os demais foram liberados após
negociações conduzidas por embaixadores egípcios.
Durante o cerco, o Governo dos EUA solicitou a
assistência do FBI (Federal Bureau of Investigation)
e do Departamento de Defesa no caso de uma possível missão de resgate de reféns. Nem o FBI nem o
Departamento de Defesa dispunham de unidades
adestradas com as devidas capacidades de C Trr21. Não
havia sido uma prioridade para suas Forças Armadas
durante a Guerra Fria ou para seu setor de segurança
pública interna, que acreditava que o terrorismo era,
de modo geral, um problema europeu; contudo, tanto o
FBI quanto o Departamento de Defesa dariam início a
esforços para desenvolver capacidades significativas de
C Trr dentro de um ano.
Cada um desses incidentes representou uma mudança no nível de ameaça nacional, o que exigiu um
aumento das capacidades internas de C Trr. Por sua
vez, 2015 assistiu a uma transformação drástica no nível de ameaça europeu. O terrorismo transnacional na
Europa e a maior letalidade de complexos ataques terroristas devem servir de estímulo para que as F Op Esp
da OTAN adotem o C Trr como uma missão principal,
antes que surja um pedido formal de defesa coletiva.
A Doutrina de Operações Especiais
da OTAN e o Contraterrorismo
Com a maior probabilidade de que as F Op Esp da
OTAN sejam chamadas a apoiar o elemento de C Trr
das forças especiais ou a unidade de C Trr dos órgãos
de segurança pública de um Estado membro, a organização precisa definir os procedimentos de coordenação internacional para tais ações nos âmbitos
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