Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 55
oficiais confiáveis
Não surpreende, então, que muitos cadetes,
aspirantes, funcionários, professores e ex-alunos
adotem a postura de que evitar uma infração ao
código de honra constitua uma evidência visível
de ser uma pessoa honrada. Embora comum,
essa pressuposição é injustificada e insensata. Na
Academia Militar dos EUA, os cadetes podem
evitar mentir, trapacear, roubar ou tolerar e ainda
sim violar os Valores do Exército10. Por exemplo,
os cadetes podem obedecer ao código de honra
e, ainda sim:
Não dedicar seu melhor esforço para o
cumprimento da missão, uma afronta ao dever
e ao serviço.
Tratar outros com desprezo ou injustiça,
violando o quesito respeito.
Ser leal a amigos e colegas de turma, violando
a lealdade profissional à Constituição.
Adotar decisões e ações incompatíveis com
a Ética e com o etos do Exército, uma falha de
integridade.
Ser temeroso e não fazer o que é certo,
demonstrando falta de coragem.
O General Maxwell D.Taylor explicou o tema
com as seguintes palavras:
A responsabilidade da Academia Militar
de West Point para com os cadetes não
acaba, porém, com sua instrução intelectual
e física. Vale lembrar que a missão estabelecida pelo Departamento do Exército dos
EUA coloca o desenvolvimento do caráter
acima da formação em artes e ciências e
em atividades militares. A condução da
guerra é uma atividade que requer mais
do que apenas conquistas intelectuais e
físicas. Não há nenhum grande militar que
tenha se destacado no comando de tropas
norte-americanas que não tenha sido, primordialmente, um comandante com caráter.
É por essa razão que a Academia Militar dos
EUA adota o desenvolvimento do caráter
como um objetivo formal, a ser buscado com
todos os meios disponíveis11.
Claramente, os códigos ou conceitos de honra
das academias não representam a ética militar e
valores de cada Força Singular em sua totalidade.
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Military Review • Março-Abril 2014
Não obstante, os códigos e conceitos de honra
são componentes centrais do etos de todas as
academias, fornecendo uma base permanente. Da
mesma forma, nossa sociedade apoia o espírito do
código (isto é, conforme expresso anteriormente
e na definição de honra no modelo de código
de ética apresentado na figura 1) e o considera
sacrossanto. Viver honestamente é um padrão e
uma expectativa.
Além disso, os sistemas de honra das academias
estão sendo onerados com investigações e uma
adesão excessiva ao texto da lei, e os cadetes e
aspirantes sabem que podem evitar problemas
atendo-se a formalidades. Investigações relacionadas ao sistema de honra se concentram em
evidências de que alguém tenha mentido, trapaceado, roubado ou tolerado quem tenha agido
dessa forma. Nas Forças Armadas e sociedade
dos EUA, a honra engloba uma perspectiva mais
ampla. A honra, no sentido de um código de
proibições, não abarca tudo o que é necessário para
ser digno de confiança—característica que exige
muito mais que isso12. Por exemplo, um descaso
intencional em relação às regras, como sair das
instalações da Academia sem autorização, não é
visto como uma violação da honra (a menos que o
indivíduo minta sobre isso)13. Mas essa conduta é
condizente com o dever?14 Da mesma forma, um
cadete pode desrespeitar um colega sem que esteja
violando o código de honra. Assim, propomos
que cada fonte de formação de oficiais declare,
explícita e formalmente, que decisões e ações que
violem quaisquer valores de sua Força Singular
são antiéticas e intoleráveis. Em West Point, o
documento que rege o código e sistema de honra
apresenta a seguinte redação:
Os sistemas disciplinar e de honra são
[separados e] distintos. A indisciplina regulamentar pode violar um dos sete valores
do Exército dos EUA. Tais infrações serão
tratadas, mas não com base no sistema de
honra […] Contudo, embora se faça uma
distinção entre violações da “honra” e infrações aos “regulamentos”, deve-se entender
que estas últimas podem ser de natureza
antiética. O descaso intencional em relação
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